PRIMEIRA PARTE DO LIVRO GRÃOS DE AREIA

sábado, 3 de julho de 2010

Grãos de Areia

PRIMEIRA PARTE

Designer: Heron - 1982
“Eu dormia e sonhava que a vida não era mais que alegria...
Eu acordei e eu vi que a vida era servir.
Eu servi e vi que em servir estava a alegria”.

(Rabindranath Tagore)

PREFÁCIO

O que se apresenta

Grãos de Areia é um conjunto de expressões da vida do autor. Ao revisitar o escrínio da memória, em relação ao sentimento das coisas estabelecidas, revejo alguns distúrbios políticos da era Cardoso; uma espécie de manifesto sobre a falta de meio termo do “chefe do bando”, como foi chamado muitas vezes nas rádios e nos jornais. É um alerta. Em seguida, fagulhas do passado.
É preciso, antes desta exposição, irreverência; e se me é facultado algum pedido, recorro para que aceitem, pois revelo-me nesta viagem um caçador neófito numa jangada em posição catatônica; tudo por força da inabilidade com as palavras. Ainda mais que sou dietista vernacular, mas não contenho a incontinência grafêmica. Dá nisto. Contudo, agradeço aos que me têm em razoável conta; aos que me cercam, principalmente aos que me fazem mestre na emoção, a ponto de me garantirem o privilégio de poder largar o porto e reviver parte da minha história com os meus próprios pés e mãos livres. Ái dos amigos, tão férteis como os sinto, pois eles são aqui intrínsecos. Onde estão as causas que até a mim chegaram? Que fiz por todas elas? Se impuseram por si próprias e acho que nem sequer dei conta de todas; ora, se nem tempo houve ainda para cultivá-las, ou sequer, agradecer aos amigos. Elas foram maiores em suas expressões. Alguém alertara que, na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, é refazer, reconstruir e reestabelecer com imagens de agora experiências do que foi vivido. Ao recordar, ampliamos por reinterpretarmos à luz da vivência e experiência atuais.

Para quem vai, em especial, estes escritos?

Aí está a lembrança. O somatório das histórias é que nos conduz a plataforma do memorial. O recurso mnemônico mantém aceso a chama da alegria, da esperança, do amor, da paz dentro de cada um de nós, sempre que nos inclinamos para o lado a ver os velhos tempos, velhas amizades, histórias, o desenrolar de nossas vidas, os amigos. É justamente para todos eles este livro. Amigos de tempos que não passaram, e se passaram não saíram da memória; estão vivos. Aqueles que distante acenaram pela última vez, os que prezo e próximo, penso que estão, os que desejaram “um grande abraço” pelo telefone e desapareceram, os que sem motivo sumiram, os que me ensinaram caminhos, os que conviveram o dia a dia comigo através dos anos, os que se arriscaram a aceitar minhas idéias, os que me ensinaram muito, os que me deram a mão, os que pensam que não fiquei devendo, os que vêem e fazem que não vê, os que já foram chamados, aqueles que sempre procuraram burlar a fé no que fiz, os que me fizeram louvores, aqueles que de tanto devê-los estão analisando ainda se aceitam ou não seus nomes gravados na placa do memorial, pois jamais poderei pagá-los, até aqueles que só falam à distância. Onde estão os céticos, os que também procurei ajudar, os que sempre confiaram na amizade, os que desistiram da velha amizade mas têem seus nomes no peito conservados. É justamente para todos esses que dedico este livro com dedicatória especial.

Quem está aqui?

O aprendiz de revisor. Aquele que o mais das vezes tentou assumir o cargo de revisor de textos nas várias etapas da construção de um livro. Ao longo dos anos tive farto material a manusear e assim sentir mais o amor e a aproximação real da aura literária dos inumeráveis escritos. Foi justamente isto que me incentivou: o dia-a-dia. Imagine, depois de anos, só agora me dei conta do hiper-espaço das palavras. Sou um aprendiz.

Como, quando e por quê?

Primeiro somei intenções, coragem e pré-disposição suficientes a fim de determinar o projeto de escrever. Ao longo dos anos juntei pedaços de papel escrito, depois fiz de tudo um calhamaço para poder trilhar e peregrinar os caminhos da editoração. Sempre pensei em não me distanciar das reservas, e não tenho nenhuma intenção de ser escritor; só o desejo, por indução, de conferir velha proposta pessoal e unilateral de grafar parcelas ou fragmentos da própria existência de modo inteiramente pessoal.
Estes escritos têm a modesta intenção de mostrar pequenos grãos de areia recolhidos dos alfarrábios. O autor, primogênito da família Cunha Lima, prefere dedicar-se penhoramente às leituras e escritos que, viajar multihoras e nunca registrar acontecimentos. É no mínimo estimulante, permissivo e satisfatório grafar, quiçá viver; contar gotas de gestos, atitudes, modos, estilos, circunstâncias e vivências inteiras entrecortadas de fatos. Assim, ler e escrever é certamente algo que diz do estímulo grafêmico e das “formas de viver as muitas vidas que não vai viver na realidade”. “A leitura e o escrever são mais que ofício ou paixão, é a vida que escolhe viver”, como diz Mario Vargas Llosa, “lo primero no era viver sino escribir”. Lembro, então, Hamlet em carta a sua mãe, “finge uma virtude que tu não tens, esse monstro que devora todos os corações, uma vez que, às vezes, precisamos de uma vida inteira para adquirir uma só virtude”.
Dizia o professor Vicente Eduardo Souza e Silva em seu artigo numa revista de Letras da UFC, citando Horácio de dois mil anos: “Quem burila demasiado perde o nervo e o vigor; o que aspira ao sublime torna-se empolado; e quem se esforça em dar prodigiosa variedade a um assunto singelo, acaba pintando o golfinho nas selvas e o javali nos mares”.

Palavras de Lichtenberg, relembradas por Otto Maria Carpeaux, em Cinza do Purgatório: “Não há mercadoria mais esquisita do que os livros: são impressos por quem não os compreende; são vendidos por quem não os compreende também; são lidos e criticados por quem não os compreende melhor; talvez sejam escritos por quem não compreende nada”.

E se algum dia tiver de escrever um livro, e o vir publicado eu mesmo reconheceria:

“Qualquer palhaço de circo é mais aplaudido e nosso país que um escritor de talento”.

Cartas literárias, p. 20. Adolfo Caminha


Dizem que jornalista não tem amigos, e nem inimigos. Que servem para desconfortar os que têm vida fácil e confortar os que têm vida difícil. É bom pensar como profeta.

“Amai-vos uns aos outros, mas não façais do amor um grilhão. Enchei a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça. Cantai e dançai juntos e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho”.

Khalil Gibran

De Celso Pedro Luft:

“Cá entre nós – que os túmulos e as carpideiras não nos ouçam!: os clássicos não sabiam pontuar. E os mais antigos nem sabiam o que fosse pontuação.”

Continuarei tentando ser conferencista de provas, assim, futuramente poderei ser revisor de textos, mais tarde, vagalume.
Dos incunábulos aos escritos modernos é o revisor o intrínseco participante no complexo exercício de todos os sistemas gráficos. É aquele que permanece lado a lado dos autores, conhecendo e reconhecendo às suas idéias, pensamentos e lucubrações. É quem organiza a linguagem e a concatenação dos títulos, linhas, parágrafos, imagens e textos adequando-os ao impresso, fornecendo, assim, a necessária correção para a boa apresentação de todos os elementos gráficos e textuais.

Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
-“Quem me dera que fosse aquela loura estrela.
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fonte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
- “Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

- “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu simples vagalume?”

Machado de Assis


Dedicatória
A Ilza, minha mulher.
A meus filhos Flávia, Carlos Márcio e Eduardo Ravi.

SUMÁRIO


Ao meu pai - Carlos Abdorilo - um dos Paladinos da Educação Física no Estado do Ceará
Ao Seachegue - Espécie de Guetsêmani
Ao José Linard Saraiva
Ao João Figueiredo
O simples Dono da Fazenda
Viagens a Baturité
A Casa da Fazenda
As Caminhadas
Andanças
Começar de Novo
A Fazenda Xapuri

SONHOS
Santa Terezinha
Morreram Todos
Renascer?
Viagem Inesquecível
Boa Viagem
Não tem Preço

PRIMEIROS CAMINHOS
Na Av. do Imperador
45 Anos de Av. 13 de Maio
Nas Matas do Dumma
Rumo a Capital
Cheguei no Goiás
Estudar na Capital
Bastante Trabalho
A Sorte do Meu Lado
A Sorte Bendita
Não é Possível Apagar
As Cirandas
Vale na Profissão
41 anos Depois - Brasília

PUBLICADOS E NÃO
Oposição a FHC: Ilusionismo e Farsa
Expertos e Trouxas
Só Compra Quem Conhece
Muda Brasil
A Serviço da Paz
Livros Científicos que Fazer com Eles
Vamos nos Unir
O Papa no Brasil
Diretores Conformados
Ele é Premonitório
Sacerdos Alter Christus
A Luz é dos Desonestos?
Segredos da Modernidade
Fim de Semana no Sítio
Acabou-se

INTRODUÇÃO



CARLOS ABDORILO – Um dos paladinos da Educação Física no Ceará


Ao falar no nome do professor Carlos Abdorilo Barros Lima, meu pai, devo dizer-lhes que o farei sem modéstia, pois os seus méritos, bons que o valham, mostram que ele permanece nos nossos corações, e por isso mesmo é mais lembrado a partir dos exemplos do conhecer, da concórdia e da disciplina. Centenas de alunos ouviram o ribombar de sua voz nas quadras de esportes dos anos de 1950 a 1988, nas aulas de Educação Física do Liceu do Ceará, Tiradentes, Unifor e outros colégios de Fortaleza.
Foi junto aos internos do Santo Antônio do Pitaguary, na Serra de Aratanha, e depois no seu Gabinete Biomédico de Exames e Defeitos Físicos, que o professor Carlos Abdorilo iniciou suas primeiras experiências em Educação Física treinando, monitorando e aprimorando os seus conhecimentos nesta área, após regressar vitorioso do Rio de Janeiro, onde concluiu com méritos os seus estudos junto a Universidade do Brasil. Foi nessa época, 1950, pela primeira vez, no Ceará, quando a disciplina de Educação Física começou a ser mais valorizada, sendo estabelecida como questão disciplinar integrada ao currículo escolar na maioria dos colégios. Dedicou‑se profissionalmente a Secretaria de Educação do Estado, ao radiojornalismo, ao Liceu do Ceará, vários colégios e Unifor; e ao seu Gabinete Biomédico de Exames e Defeitos Físicos, pioneiro no Estado, localizado na Av. do Imperador. Foi o incentivador e fundador do Centro Esportivo do Liceu do Ceará e desenvolveu sua disciplina em vários colégios de Fortaleza, desempenhou diversas funções sempre ligadas à Secretaria de Educação do Estado, mediante concursos que lhe garantiram os primeiros lugares. Publicou vários manuais de Educação Física e ministrou aulas pelo rádio. Fez cursos de administração escolar, desempenhando esta atividade em colégios da cidade. Foi pioneiro na Unifor ministrando aulas por mais de dez anos, sempre com carinho e dedicação. Deixou entre nós, além do exemplo de sabedoria, os seus escritos, larga fonte, o seu legado, ingresso à modernidade na disciplina a qual dedicou por quase 40 anos – a Educação Física, no Estado do Ceará. Last but not Least.


SEACHEGUE - ESPÉCIE DE GUETSÊMANI


Chegamos na praia do Presídio no Iguape. A primeira lembrança é o do Seachegue, uma das casas da rua dois. E é para lá que estamos indo. A viagem é ótima. A Ilza, a Flávia Lima, Márcio e Ravi adoram a praia do Presídio. Nada mais saudável e estimulante ser acolhido e envolvido em alegrias, conversas com as famílias e os amigos todos os sábados e domingos.
Estamos na casa do Ricardo e Flávia. A primeira providência são os cumprimentos, em seguida, nos abancamos nas brancas cadeiras do alpendre sertão/praia. Somos recebidos pelas inúmeras palmas verdes e plantas de toda espécie do jardim da casa, em seguida a saudável água de côco. A agasalhante sombra provocada pelas plantas, os jarros, toda casa, tudo é conforto.
Começa o churrasco na grande churrasqueira do segundo alpendre. E como estamos no “Seachegue”, logo estamos numa roda de velhos amigos. O Joviniano e família, Paulo e Vera são os amigos de grande estima que abrilhantam todas as reuniões. Aqui não se perde nenhum segundo. Logo recebemos as indicações dos quartos, o convite para a praia e certamente, iniciar os trabalhos, isto é, iniciar as longas conversas saboreando boa cerveja ou uísque com os amigos e ouvir boa música enquanto a noite não vem. Essa hora é reservada às andanças pela praia ou visitas em casas de outros amigos.
Tudo é apenas preparativo para a nova rodada nas areias da praia, num barzinho da estrada, ou mesmo na peixada do Zé Almir, na casa de conhecidos como - joviniano e Teresa, Paulo e Vera, Seu Edmar e D. Marta, no Barro Preto. “Sempre nos receberam faustosamente”. Assim são as reuniões no Presídio e Barro Preto, sempre cercadas e acompanhadas das boas histórias do Ronaldo e Silvia, da irmã Riane e Paulo Correa, D. Marta, Seu Edmar, o patriarca.
Hoje, é o inesperado dia seguinte. Aqui a gente pensa que o tempo não passa e ao passar não queremos que se vá. Hoje tem nova festa e os preparativos começam cedo. De tarde novos chamados para a longa caminhada pela praia até a barra, tomar aquele um banho frio. Enfim, domingo de tarde, a despedida. É por isso que eu digo sempre: “Esta foi a vez que mais gostei daqui”.


JOSÉ LINARD SARAIVA – velho amigo


É José, não fizemos mais caminhadas! Tive de me acostumar com a jornada sozinho. Ouve‑se a sua palavra transformada quase numa missão. Eram serenas e poucas as suas manifestações, mas pareceram boas aulas para o sentimento e ouvido humanos. Falava às vezes espanhol, latim e a sua língua mater, o italiano, mesmo sem freqüência ou correção de palavras, mas não deixava de dar seus exemplos tirados de dezenas de livros lidos em sua vida. Citar Hoddellin, Gabriela Mistral, Abraão Lincoln, Gandhi, para ele era natural.
Quem sabe, este místico em algum tempo ou em outras vidas teria sido um monge educado a toque de sineta. Vê, num suposto pássaro que voa a mil metros de altura a graciosidade de um albatroz; no volitar de suas asas, a beleza da natureza, o sentimento dos anjos, a justiça divina. O José Linard Saraiva, italiano‑espartano por descendência, divide‑se entre os próprios deveres e sentimentos, traz na imagem a sensibilidade e sempre deixa que percebam, como dizia à sua mulher: "tu és tão sensível que és capaz de sentir o pousar de um pássaro num galho de árvore há dez metros de altura”, e fala dos calafrios de um escultor que "vibra, chora e sente a presença viva da própria imagem a ser talhada dentro da pedra, antes dela ser esculpida". Nos laços da sua intimidade, em sua casa ele dizia: “um esposo esperto sabe exatamente o que dizer à sua esposa durante um desentendimento familiar, um mais esperto ainda, não diz absolutamente nada”. “O vinho, nascido da cepa torta, a uns faz perder o tino, a outros errar a porta”. E lembra do sertão: “Cabocla do meu sertão, que traz no corpo o cheiro das madrugadas, tens os peitos rijos que passarinho não belisca”. E mais: “Madeira velha queima melhor, vinho velho tem mais sabor, velhos amigos são mais leais, velhos poetas são mais geniais”.
Há duas formas de dizer: “falar e estar calado” de Gustavo Corção. E Tufic, “O homem livre é aquele que ama a terra em que pisa e a casa em que mora”. Feliz permanentemente para consigo, não traz aflições no peito, e lembra de engrandecer os pensamentos, mesmo aqueles que trazem menos alegrias; ressalta, e olha para uma pequenina estátua de sua casa: “você não chegou aqui como uma grosseira ostra, chegou aqui como uma jóia (ou uma pérola), e só a vejo nas nuvens, nas estrelas, nas montanhas. Às vezes pensa, imitando os monges e admirando as florestas ao longe; isto para poder observar melhor qual das árvores é a mais frondosa e copada, pois nela haverá de pousar; diz: “não me faças mais chorar”, “pois os meus olhos, se reaprendessem a chorar, não trariam lágrimas, e sim um pequeno dilúvio”. Riu, quando lhe perguntaram sobre outras vidas. Traz conservando no semblante o peso de sua imaginação e com o olhar lancinante diz: "Não sabemos de nada, "sou um passarinho que voa no seu próprio quintal". Linard, o nosso velho amigo, o João Figueiredo, sumiu, acho que vive mais nos Estados Unidos. Apareceu uma vez encarnando Rasputin, cheio de histórias entrecortadas.



JOÃO FIGUEIREDO


O Colégio Estadual do Liceu do Ceará foi também o meu fornecedor de amizades durante um período da minha vida. Conquistei amigos que me acompanharam durante algum tempo. Daqueles todos, muitos são professores, empresários, doutores, deputados, coronéis, administradores. Mas nem todos igualmente tiveram longa caminhada junto a este homenageado, o João Figueiredo. 45 anos de amizade.


Baturité


Tive o privilégio, em primeira instância, de ser garupeiro de sua vespa italiana em muitas investidas – a flor de liz – como a denominava. E assim, sempre tivemos sintonia com as namoradas. O que planejávamos dava certo. Fomos estar com sua mãe, em viagem de férias, na sede da Fazenda no Sítio Conceição, no alto da serra do Vicente, em Baturité, a oitocentos metros de altura. Tinha 18 anos e nunca havia empreendido semelhante aventura. Ele já teria passado por esta situação muitas vezes, na mesma estrada com os seus familiares, da sua residência na rua Senador Catunda no Benfica à serra do Vicente.
Tomadas as providências de viagem com a antecedência, este neófito, viajou, conforme combinado, para Baturité. E já teria de estar nos esperando, na feira da cidade de Baturité, próximo da Igreja de Santa Luzia, dois cavalos bem selados, pois deveríamos subir a serra por este meio de transporte, o que seria mais pitoresco ainda.
Chegamos em Baturité, lugar abençoado. O velho amigo, treinado dentro de uma família tradicional, e com costumes ingleses, nunca poupava esforços para oferecer o melhor com naturalidade e descompromisso. Talvez soubesse mesmo que para mim tudo também era novidade e admiração. Era assim mesmo os seus irmãos, irmãs, parentes e toda a sua família.

Dono da fazenda

Os seus dois maiores exemplos: respeito e tranqüilidade. Assim, agia também com os seus moradores, tantos os encontrassem. Ensinara o seu pai que amigos haveria de possuir em maior número possível. Nunca os teria em falta em todas as ocasiões. Para cada caso em que se deparava fora do seu entendimento, não discutia, não fazia cara feia. Sempre assistia tudo com aquele ar de humildade, em silêncio, como quedando todas as oportunidades de defesa ao infrator; ao final, ele apresentava mais um exemplo típico do seu pai, como dando-nos uma espécie de lição, a ponto das pessoas perceberem. Havia mais aula de bons costumes que repreensão. E também sempre aceitava os dizeres dos caboclos com plena familiarização para que assim ficassem melhor entendidas as questões. Um caso exemplar: Um caboclo com longas explicações relata fatos políticos insolúveis em diversas passagens e, depois de demoradas explicações ao patrão, disse a seu modo que tudo era muito difícil e complexo, que daquela maneira nada estava certo; e retrucou: “esse caso, seu João, chega a ser um ministério...”, ao invés de mistério. Ele baixava a cabeça. Tinha a capacidade de assumir o exemplo do pai, como no dia que percebeu que estava sendo roubado em porções de café. Numa reunião que provocara, todos reunidos achavam um absurdo o desaparecimento de certa quantidade de café. Neste dia, no final da tarefa, na hora de irem para suas casas, cada caboclo portava seu fardel; um com trouxa de roupas, outro com fecho de lenha, outro com um camburão pequeno na mão, uma camisa, uma calça e pequeno rodo, uma cabaça, outro com um chapéu e facão na mão etc., cada um com o que lhe pertencia e levava para casa no final do dia. O feitor explicara que as quantidades de café não estavam correspondendo, por isso necessitava saber o motivo. Parodiando seu pai, no final da reunião, quando já tinha pistas de quem pudesse estar lhe roubando, ele resolve encerrar a questão e efetuar o pagamento do dia, mas antes de tudo, matreiramente, no mesmo local, já desconfiando do homem da cabaça, se senta em um tamborete, puxa uma caderneta do bolso e pede algo que lhe dê apoio para a sua mão, invocando imediatamente o portador da cabaça. “Me empreste isto para que possa escrever”, e sentado no tamburete, virando-a de boca para baixo entre os pés, sutilmente, viu sair de dentro da mesma, por um pequeno furo, vagarosamente, quase três quilos de café puro, escolhido, de primeira qualidade, (o condilon) e, não acrescentando nada, efetuou o pagamento de todos igualmente. Levantou-se e foi embora. Era a cópia do pai.
Quantas viagens, tantos amigos, festas. Nunca divergimos. E o velho amigo estava sempre ali, com seus exemplos de mais velho, suas estórias aprendidas com o seu pai, a coragem dos Figueiredo, com a índole dos coronéis fazendeiros de Baturité.


A Casa da fazenda


Em sua casa era recebido com alegrias. Tudo fazia parte do natural. Farta mesa, empregados, grande bananeiral, cafezal, fruteiras e árvores centenárias. A sede da fazenda com casa rústica cinematográfica, a casa do engenho, a cortesia dos caseiros, o açude em frente a casa, a pescaria, a voz do silêncio, o gado, clima sereno e agradável; parecia que tudo estava perto do céu. Tudo fazia para me comportar como visitante, pois se tivesse sido eu mesmo, naqueles dias, acho que seria ojerizado por todos, por manifestar tanta admiração.
Depois do jantar, a noitinha, a reunião no patamar da casa. O farfalhar das bananeiras lá em baixo, o corte do frio que ia se instalando devagarzinho, o gorjear, lá no alto, dos últimos pássaros do dia, pequenas histórias de papangús do folclore regional, a visão de alguém que vira fantasmas, a afinidade entre todos, o cigarro acendido pelos projetos, a seriedade dos seus falares, os risos francos. Que coisa mais natural. Tudo ali era ao natural. Havia boa música, recitação, café com tapioca, refrescos, cachaça e vinho da velha reserva para quem desejasse.
Numa boa cadeira de balanço sentava-se a D. Pury, a matriarca do sítio Conceição, mãe do Alberto, sempre bem agasalhada, rodeada de cadeiras próximas a ala dos bugaris, no grande jardim, acompanhada pelo suave canto dos grilos. Ela nos contava as histórias daquela serra, os exemplos do Seu Figueiredo, as viagens à Fortaleza, os bons tempos do sítio Conceição. Tudo acontecia dentro de um clima saudável, e ao cantarolar distante dos últimos bandos de capotes, patos e marrecos no açude fazendo o primeiro sinal de que a noite chegara.
A sinceridade chega a ser percebida como um ser vivo. Ali a “competição” era algo que passava distante muitos quilômetros. Parece que todos reconheciam e entendiam que permanecer em uma só posição era um ato de honra. O comportamento de todos ali refletia a sinceridade, a honestidade, a fraternidade, a amizade, todos os dons naturais do ser humano.

O passar do tempo

Depois de muitos anos retornei, a convite do Alberto e sua esposa dedicada, a Dadá. Desta vez levei a Ilza, minha mulher, (2004) Ficamos hospedados na mesma casa sede do sítio Conceição, reformada para durar mais cem anos. Tudo evoluíra e melhor estava. A casa fôra repintada, recebeu teto novo, com forro de gesso. A cozinha foi ampliada e tudo era em benefício do conforto. Passamos um longo feriado. Um pequeno céu com direito a risos, redes na varanda enorme e muitas amenidades. Nas refeições e nos passeios em volta da casa, nos jardins, os verdes das montanhas, o perfume, o silêncio, os signos e sinais da família dos Figueiredo, e como não podia deixar de ser, a extrema gentileza da D. Maria das Graças, fiel escudeira ao longo da vida do João Figueiredo.


Caminhadas


Cedo do dia, após os tratos matinais, sob um frio de dezoito graus, fomos à mesa farta e as primeiras palavras de D. Pury, sempre recheada de cuidados. A presença dos caseiros e a prontidão de um personagem gratificante intitulado de chefe do cerimonial chamava atenção: Dom Gadelha, brincalhão e cheio de sinceridade. Era o homem que criara um ministério para os seus problemas. Dois cavalos nos levariam, mas preferimos caminhar. Certa vez o primeiro local a ser visitado, em cima de um pequeno morro, seria a casa de D. Raimundinha. Deitada em sua rede, já em idade avançada, uma das primeiras moradoras nos recebia. Com a voz rouca deu boas vindas e falou das benesses recebidas dos Figueiredo. Agradecida em todos os aspectos, colocou-se a disposição e o chamara de patrão. Figueiredo, já conhecendo todo o ambiente e procedimentos fez-lhe saudações, indagações e observações. A velha moradora já não respondia a todas as perguntas, mas refletia sobre sua vitalidade dizendo que sempre foi muito forte e saudável, mas agora está difícil. Mas se sua saúde já não estava boa, não era porque tinha feito extravagâncias. João, sabendo de tudo perguntara: D. Raimundinha, e a cachaça, o que a senhora acha? O que ela respondeu prontamente: “Meu filho, já bebi muito, mas hoje... da cachaça o diabo só quer uma coisa, o resultado”. De volta a sede da fazenda, por volta do meio dia, nada melhor que um bom banho de bica e sentar-se à mesa repleta de iguarias oferecidas pela sua mãe, que nos indicava; olha, tem isto, tem aquilo. E enquanto a gente se servia, ela conversava suas amenidades. Daí para diante as horas corriam, e mal se dava uns embalos naquela preguiçosa rede de tucum, espichada no grande alpendre. No calendário especial se via chegar os anunciantes da tardinha, os bandos de periquitos, onde parece tudo ficava mais belo; o perfume das rosas abençoadas do jardim bem cuidado de dona Pury, mãe do Alberto. Os últimos reflexos do sol escarlate, o escuro das copas das grandes árvores da íngreme serra ao lado da gente, a mansa chegada do frio juntamente com o silêncio e, a suave permanência da noite.
Muitos anos se passaram e lá retornamos, ainda com o Linard e outros amigos. Pareceu-me algumas vezes retorno ao passado. Vimos as mesmas alegrias pelas mesmas imagens, dom Gadelha já tinha bastante experiência como chefe do cerimonial, os moradores foram substituídos por outros mais experientes, os assuntos já cintilavam pela promessa da chegada da energia elétrica, a matriarca já não se fazia presente, a mesa farta quase foi substituída pelo churrasco, todos ficamos mais apressados e a hora se fazia um raio.
Sempre tivemos o impulso deste amigo João Figueiredo para novas viagens, mas parece que cada um teve de cuidar mais de seus filhos e de suas casas, de suas famílias, de seus negócios. O tempo passa e nem se tem a conta, nem os motivos que nos levam a lembrança, pois sempre será assim, mas tudo está com a mesma paz neste memorial de boas lembranças.




FAZENDA XAPURI


Foi outro bom acontecimento na minha vida, a velha amizade com dois grandes amigos, Rogério e Ricardo e irmãs. A família Coelho, em Fátima, morava na rua Napoleão Laureano. Suas irmãs se tornaram amigas interessantes; duas loiras e uma morena. E todos brincávamos desfrutando de saudável amizade entre as famílias. Naquele tempo se ouvia a todo instante músicas da época. “Um sapatinho eu vou... andar devagarinho....” “corre, corre, lambretinha, para ver meu bem...” Crescemos praticamente juntos, fomos as diversas reuniões de amigos, praias, piqueniques; mais tarde, festas nos clubes Náutico, Líbano e Maguary.
Havia a oportunidade de ser incluído nos passeios espetaculares feitos pelos Coelho. Os fins de semana na Fazenda Xapuri, propriedade recém adquirida por D. Naíde e Seu Coelho. Todos me tratavam como um irmão, e era natural, pois a principal característica da família Coelho sempre foi a cordialidade.
A Fazenda Xapuri, propriedade da família, ficava há vários quilômetros à esquerda da cidade do Croatá. Entrada para Paracuru. A viagem até lá, pode-se dizer, era cheia de expectativas e surpresas mas sempre terminava bem. O caminhão, transporte da família, além da família, levava resíduo para gado, madeira, sacos de mantimentos, telhas etc. para a fazenda.
Antes da chegada à fazenda, uma parada na casa do Seu Melquíades, casa de morador, ou na fazenda do coronel Cruz e, enfim, a sede da Fazenda Xapuri. Logo na chegada íamos descarregar o caminhão, velho Chevrolet, ano 1946. Ainda dava tempo do banho de açude e o bom jantar. Mesa farta com tapioca, pão de sorgo, queijo e café, além daquele sanduíche feito pela D Naíde. A noitinha chegara e logo se pensava na rede e no frio da noite. Alguns moradores da fazenda ali estavam para longas conversas e tomar café. Vem o frio, o ouvido ficava ligado no chocalho ao longe, no latido do cachorro assustado, nas conversas de onça, no quachar dos sapos, nos grilos da noite, no último rangido da rede, no xiado perto, na aproximação do silêncio total, no sossego geral; os olhos, no saltitante relâmpago distante, na noite, na escuridão do sertão; o nariz ligava-se no perfume das matas da fazenda, no cheiro de gado. Esperava-se cedo da manhã, a promessa de andar de cavalo.
O Ricardo ou Rogério, já com bastante experiência, não vacilavam em selar os animais. O Xapuri era também o nome do melhor cavalo da fazenda. O ciclone, o mais corredor. E todos faziam questão de que tudo estivesse “nos conformes” como se dizia. Quantas viagens de dia e de noite! E na vida ligeira, nunca tive tempo de agradecer verdadeiramente aos velhos amigos.

Minutos Celestiais

SUBMISSÃO


Em uma idéia reparadora tive a oportunidade de vivenciar, em espírito, situação bastante inusitada que, passo a descrever. Encontrava-se vivendo dentro do mar em águas profundas, cheiro de sombras; ambiente silencioso e lúgubre, repleto de perigos iminentes, ataques perversos, armadilhas e segredos. Percebia que outras pessoas sentiam o mesmo. Conseguia respirar com dificuldade e me comunicava falando ou por gestos. Percebia, entretanto, que tudo que acontecia em baixo d’água tinha subterfúgios. A locomoção era lenta, mas me mexia permanentemente, e, com o peso da água tateava-se para todo lugar. Tudo que fazíamos enquadrava-se dentro da performance do dia-a-dia. Tinha o direito visível, entretanto, de subir ou descer lentamente, nunca afundando de vez nem subindo de repente. Constituía-se pequena vantagem. Tudo era conforme o meio em que estava, a água, onde vivi a experiência.
Desejo dizer que estou longe de entender as profundezas do mar ou qualquer tipo de doutrina submarina para poder chagar ao ponto de fazer projeções sobre essa ou aquela questão.
A configuração do estranho exemplo, refere-se ao regime político em que vivemos e a crítica às supostas regras a leis desde País. Imagina-se que os políticos, grande parte, cuidam mais dos jogos de esconde-esconde, manipulam a todos sem enfrentamentos e só trabalham disfarçados com o interesse de modelar as mentes de menor vigor em beneficio próprio. Todo é negado por muitos ou é dito por enganação, é camuflado, como se seguíssemos ordens ou fôssemos dirigidos como robôs, onde tudo funciona lentamente entre o silêncio e a escuridão. Se apresentam uma hora com excessiva bondade, outra cheia de arrogância, como se todos convivessem no ambiente pueril de suas vagas origens. Tudo no governo tem uma franja de ambigüidade? As sociedades secretas preferem manter os negócios secretos embrulhados? Chega de demonstrações de agressividade e arroubos de generosidade mentirosa.
Será possível que ninguém se toca e nada desejar fazer? Preferem mancomunar-se com o presidente da República? Quase todos estamos atônitos e bestializados porque conferimos e aceitamos ser subestimados? Depois dessa implantação do fervor maquiavélico, onde o seu humano quanto mais pisado perde a moral, só uns poucos esclarecidos chegam a outra margem; os que ficam do outro lado, parece, sofrem descompactação. Não movem mais nem um dedo e acabam achando acerto nos mandatários. É uma espécie de romanização.
É como no Congresso Nacional. O que é sério parece ser resolvido a distância com o baixar do porrete. Longe do Brasil. Antes de ter esse crivo vem a discussão, a polêmica, o disse-me-disse nacional, só com amenidades, mas a resolução já vem de longe do “ambiente palaciano” e das vozes do Senado e Câmara. Tudo que vem é sempre com o aval e vigor preponderantes. Sem falar nas decisões dos mercados da Europa, Ásia, África e Estados Unidos e outras transações. Mercosul não se fala. Isso é a manipulação e submissão em cima de todos nós, porque o povo não percebe mais e nem se toca para o ambiente em que são tomadas as decisões nacionais ou as estranhas decisões governamentais que os beneficiam, mesmo sendo o bode expiatório da questão.
Nunca haveremos de conhecer qual “sacerdote” representante das portas fechadas, que num rasgo de impetuosidade, de tempos em tempos deixa transparecer essa bendita humilde vanglória. Sob o manto da discrição explicita que sim: “continuamos com novas decisões para o bem das consecutivas ações... e, é claro, para alimentar...e... diz lá a sua frase rocambolesca”. Nem eles mesmos entendem. Conheceremos muito mais as suas palavras claras: “Tenham calma! Hoje haveremos de favorecer tudo que desejam, finalmente chegaram as soluções esperadas para todos nós. Somos contemplados com as resoluções almejadas. Agora poderemos viver em paz. A concretização dessa informação acontecerá hoje mesmo, mas poderá ser amanhã de manhã, de tarde ou até no final do ano”. Por quê tem essa forma as decisões brasileiras? misto da desordem e incompreensão/compreensão democrática para que o povo não alcance e nem entenda nada.
Que tipo de reflexão fazem eles, os que cuidam de determinados setores do País, das centenas de armas de última geração para proteger os narcotraficantes, aviões de combate de uso exclusivo militar agregados e mísseis de última geração; naves possantes de decolagem vertical; compras vultosas de explosivos militares etc., isso pode ser a preocupação deles, mas vira ambiente próprio dos traficantes e cada vez mais se expandem, até com a aquisição de intricados aparelhos eletrônicos que emitem ondas destinadas ao controle da mente humana, assim, monitorando melhor o destino e os interesses junto aos promitentes empreendedores. Longe desses espiões sabotadores e concursados kamikases que ainda poderão imitar os talibãs no céu, nas terras e nos mares brasileiros.
Os mandatários caramujeiros? Eles estarão sempre envolvidos nas principais questões dos aristocratas a bel-prazer, cada vez mais com pavor dos humildes e alimentando-se dos indefesos, controlando a mente dos revelados submissos.
O simples fato de não podermos reconhecer o ambiente secreto em que são travadas essas decisões, aqueles que conspiram certezas absolutas debaixo dos panos permanecerão vivos e ativos. E o que é pior, não querem nem saber, transformam em fumaça, ainda que simbolicamente, qualquer um que se aproximo deles com essa intenção. E vejam só, um pequeno e simbólico rito só, basta, para fazer desaparecer quem não deseja ou quem não agrada aos donos da verdade deles.



Viagem Inesquecível


Acho que é impossível para o ser humano realizar uma perfeita análise de tudo aquilo que se relaciona às imagens fabricadas pelo subconsciente. É, na verdade, um somatório de questões que merecem crédito pela realidade que se vive naquele momento. Quando a situação é envolta em fatos tristes ou que não merecem o seu crédito ou interesse, há que se pensar em defesa e se resguardar. Mas quando existem personagens íntimos e, toda configuração é repleta de fatos que lhe sensibiliza, fica a lembrança que eleva o espírito e o coloca em situações privilegiadas. Não posso negar. Em muitos sonhos vivi fatos inesperados que, alguns casos é provável advenha novas lembranças e uma espécie de saudade a compor um misterioso bem estar, fatos esses que não podem assemelharem-se a nenhuma outra situação. A sensação é indescritível e compõe todas as cenas, sendo quase que impossível descrever o envolvimento e a configuração. É muitas vezes, uma sensação sem possibilidades de narração. Cada cenário único refere-se ao embevecimento e a exuberância ligados ao emocional, aos sentimentos, ao próprio coração. Posso dizer que vivi situações até fora de comparações como é o caso de uma viagem que fiz, com a minha esposa, em um transatlântico na Espanha. Todos falávamos o espanhol com muita elegância. O comodoro fazia referências a minha pessoa como um industrial que participara da viagem acompanhado da esposa com intenções de relaxar nas férias. Na verdade todos nós estávamos ali para nos divertirmos. Havia cordialidade e os encontros pareciam insuperáveis. Imaginei até que o tempo pudesse esvair-se sem que me desse conta de tanta amabilidade, e que aquela festa terminasse antes do usufruto. O tempo corre e sabe-se que nele se vão todos os componentes de cada momento. Tudo era real e tudo era imaginação. Não pensei, em nenhum momento, que aquela viagem era apenas uma pequena célula carregada de conteúdos férteis que desprendia-se do subconsciente.

Viagem fora do corpo


São cinco horas da manhã e já estou de volta ao planeta. Chego de um mundo distante e desconhecido. Atraído pelas naves gigantescas, encontrava-me certo dia próximo a um aeroporto e observei a descida de um estranho objeto na pista. Vi uma espécie de ônibus, um gigantesco ônibus, estranho, parado e com as portas abertas como para uma manutenção geral. Algumas pessoas em sua volta mexiam em alguma coisa. De longe observei tudo aquilo, mas com inusitada naturalidade percebi muita familiaridade. Fui de encontro a nave com muita facilidade e, com a minha aproximação, percebi que estava sozinho. A grandeza de tudo aquilo, aliado ao silêncio da noite, não me colocaram medo de nada. Tudo era calmo, e, diante da minha visão, só restava aliar-me às conjecturas. Parecia ali, aquela nave adormecida, um gigante parado. De repente, sentei-me na base de uma de suas peças. Era uma placa reta do tamanho do meu corpo. Parecia um grande caixão cobrindo alguma peça quase no chão. E logo resolvi deitar-me sobre placa. Cheguei a observar o céu e até me aproximei das estrelas lá de cima. Espaço livre de grandes manobras. Depois de alguns minutos quase tudo parecia natural. Não foi surpresa quando percebi um pequenino sinal de luz em alguma parte daquele objeto, um som estranho, uma espécie de trepidação, zumbido, cheiros fortes. Era a nave que despertava. Vi certamente que aquilo iria se mover e sair de onde estava, mas não despertei-me do engastaiado em que estava. Com muita rapidez tudo se passava. Logo estava no ar com uma velocidade considerada. Pendurado mas abraçado aos ferros, alguma coisa se abriu e me engoliu visivelmente, lacrando-me em um compartimento existente, era um grande retângulo com uma janela de vidro. Um empuxo veio em seguida e, com ele, todas as adequadas transformações ambientais. Sentia um grande bem estar nesta hora e sabia que estava a caminho de uma situação surpresa em pleno espaço. Até o momento tudo era invisível. Percebi que estava acontecendo uma viagem. Irei para um outro planeta? Era uma silenciosa viagem confortável.
Horas depois, a descida, e já podia observar pelo vidro o esplendor de uma grande praia repleta de ondas brancas com muita névoa. Tudo meio esfumaçado. Descemos e, após uma grande curva chegamos ao chão. O caixão se abriu e uma espécie de humano apareceu do meu lado. Segurou na minha mão e saiu puxando para dentro de um prédio. No percurso, senti que dezenas de figuras humanas estavam trabalhando. Não via rosto nem detalhes de roupa. Também percebi que minhas pernas poderiam dobrar como as deles estranhamente, mas que eu poderia andar como eu era. E caminhei com o chefe, andando na frente seguindo-o. Andamos por muitos departamentos repletos de trabalhadores sem rosto, ou com rostos invisíveis sempre acompanhados de muita névoa. Também, percebi a familiaridade e naturalidade das pessoas, elas também me viam. Passei até a encarar como um ambiente neutro de minha vida. Até fui solto da mão do cicerone e procurei ambientação entre aqueles que ali estavam. Foram solícitos comigo e conversei bastante também. Enfim, percebi que tudo que sabia eles conheciam e que havia uma grande identificação entre todos. Eu é que me considerava diferente deles, mas eles eram diferentes de mim também, mas todos nós tínhamos os mesmos pensamentos, as mesmas preocupações, os mesmos gestos. Terminado o reconhecimento, dirigi-me para a nave sozinho e fazendo todo o percurso a pé, como antes, passando por dezenas de grupos em trabalho sobre mesas, e todos em pé, aproximando-se da nave, ingressei pelo mesmo compartimento sem que ninguém me perguntasse algo, fechou-se a porta e o aparelho iniciou a longa viajem de volta me deixando com o explícito sentimento de gratidão. Aquela experiência privilegiada de quem acredita em viajem fora do corpo.

Não tem Preço


Vale na profissão, quando valoriza-se o conhecer, o fazer e o viver pelos limites concretos de atuação. Foi com muita honra que em 1971 fui convidado, através do Diretório do Centro Acadêmico da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Federal do Ceará, a oferecer uma palestra a professores, estudantes e representantes do Curso de Jornalismo no Ceará, uma das primeiras turmas de jornalismo do Ceará, sobre os modernos conhecimentos da indústria gráfica daquela época adquiridos na Capital Federal, no Curso de Ciência da Comunicação e no Correio Braziliense; primeiro órgão de imprensa do Brasil, pioneiro no uso do sistema gráfico de composição a frio no Brasil.
A exposição versou sobre novas técnicas de confecção de jornais; os “Jornais laboratórios e sua importância no aprendizado do futuro jornalista”. Com base nas disciplinas do Curso de Jornalismo do CEUB, e no Clube de Imprensa, vivenciado com experientes mestres da capital da República como os professores. Esaú de Carvalho, Hélio Beltrão, Zita de Andrade, Germano Galler, Antônio Honaiss, Walter Poyares, e muitos outros, me senti enquadrado nos respectivos enunciados. Era uma época onde só existia a linotipo. Ainda não se pensava no Ceará, em modernizar os sistemas gráficos, e se manuseava exclusivamente a composição “a quente”. A revolução gráfica era algo distante nos parques gráficos do Estado.
Depois desse momento, tive a honra de receber os agradecimentos e, das mãos do jornalista e publicitário Chico Teóphilo, na época representante estudantil, documento referendado também pelo diretor da Faculdade, professor Faria Guilherme. Tudo isto representou, na ocasião, mais que a força de um ideal, o efetivo estímulo e o engajamento definitivo desse jovem estudante de Comunicação Social nas áreas em que eu pretendia desenvolver.
Ao regressar a Brasília naquele tempo fui para a Gráfica do Senado Federal, onde desempenhei atividades nas seções de fotolitografia, me tornando professor da Escola Gráfica do Senado Federal, depois de muito trabalho, fui me estabilizar no local para qual estudei, me preparei e almejei no jornalismo gramatical – a revisão gráfica. Lá trabalhei junto aos mestres da Gráfica do Senado Federal, como Florian Madruga, Gilberto, Adriano, Roberto, Juracy, Nagette Brandão, Ubirajara Faria, Helho, Filadelfo Azevedo, Graça e tantos outros, até o ano de 1980, quando regressei ao Ceará. Algum tempo depois, em contato com o jornalista e professor Geraldo Jesuíno e o diretor Anselmo Frazão, da Imprensa Universitária da UFC, na Universidade Federal do Ceará, tive a chance de ingressar na Imprensa Universitária, onde fui conduzido para o setor de revisão da Imprensa Universitária e em seguida, ex-ofício do então diretor Geraldo Jesuíno, à Editora da UFC, setor onde colaborei como assessor da direção e, em seguida, quando fui indicado pelo novo diretor, Luiz Falcão, como jornalista, Coordenador Editorial da Imprensa Universitária.

Primeiros Caminhos

AVENIDA DO IMPERADOR


Ao receber alguns tostões do meu pai, dirigia‑me, vez por outra, sob seu olhar vigilante, à mercearia do “Seu Domingos” na esquina da rua Guilherme Rocha com a Av. do Imperador. No ano de 1953, comprava “peixinhos dourados”, os quais me davam grata satisfação. Primeiramente, de tê‑los comigo, depois contá‑los e separá‑los pelas suas cores para, em seguida, saboreá‑los um a um, sentado à porta da casa 772 da Av. do Imperador. Quando permanecia na casa dos meus pais, as empregadas Joventina e Luzia eram as primeiras a responder pelo zelo e os cuidados da criança. Quando em casa, me divertia em uns balanços montados no grande quintal. Admirava o Tinoco, um Dog alemão, o farfalhar das altas bananeiras; a Jupira, uma cachorrinha da vizinha que era vista de cima do muro, a graúna, meus brinquedos.
O dia começava no parque montado no quintal, como chamavam as recém chegadas de Soure. Diziam que era para subir na corda, correr, balançar etc., e administrar o vai‑e‑vem de uma gangorra. (olha, esse menino!.. dizia minha mãe.) Caia‑se no chão, levantava‑se, balançava‑se, subia-se em pequena escada, e até rolava‑se na areia. Todas as ações tinham a ajuda delas, as “amas”. E como ninguém é de ferro, surgia o cansaço, bebia-se água e deitávamos na própria areia limpa trazida da praia. Que areia aconchegante! Elas também, quando se cansavam e suavam, deitavam‑se na areia e se sentiam bem à vontade. Sentavam‑se no parapeito, na areia, se deitavam no chão, e, de forma bastante relaxante, na intenção talvez de descansar. Com essa explicitude, esqueciam tudo e dava para perceber, pelas primeiras vezes, em cores e ao vivo, as partes antes cobertas e descobertas das bondosas caucaienses. O minititan, em franco desenvolvimento, ainda metabolizando o mingau, acabara, desta forma, naqueles mesmos dias, registrando de forma explícita, várias vezes, para sempre, o episódio histórico da revelação dos segredos naturais. Quanto riso! Na casa dos avós também havia novidades e muito se brincava. Foi onde vi a primeira coca‑cola. Podia‑se ficar na porta da rua, na janela da calçada e, de tarde brincar no quintal com as pedras brancas de cemitério, como chamavam, e, depois, passear na calçada em frente a porta da rua. Morava lá, também, uma empregada sisuda, que, além das tarefas, tomava conta de menino. Não era afeita a trabalhos domésticos e nem tomava conta de ninguém. Alta, morena, não fazia nada a gosto, mas recebia os encargos para aprender a cuidar de casa, lavar louças e cozinhar, e, se tempo tivesse, “prestar atenção” ao Roberto... “Presta atenção, esse menino...”, diziam. Fazia que estava sempre ocupada. Era sua forma de gerenciar às suas atividades, mas “tomar de conta” de criança, raramente. Não falava, gostava mesmo era de correr da porta da rua ao do fundo do quintal. Era engraçado e estimulante aquela atitude. Criança que ver outra correndo, quer correr. Gostava, entretanto, de esconderijos. Raramente a encontrava, pois difícil eram os seus caminhos e ligeiros os seus passos. De repente um aviso: tô aqui...! e a peregrinação iniciava‑se. Terminada aquela jornada, terminava o tempo a brincar. E, antes do cansaço, quase missão cumprida, era a vez do pequeno se esconder. Mas, é chegada a hora de outros afazeres, e neste instante há um chamado. Geralmente depois das correrias. O que fazer? Ela, com esportividade ainda dizia: vai te esconder que eu vou procurar. Parece que a missão de tomar conta da criança indicava a lógica conservadora do lema: “não saia de perto dele”. E, começava a correr e dar as últimas voltas, rodava a ponto de levantar a saia próximo àquela criança e ia para a cozinha enquanto dizia: nesse esconderijo ninguém te acha?!, e eu corria também. Lá chegando, ela cobria minha cabeça com sua saia. Um dia, demorei a correr novamente para a sala e resolveram investigar o silêncio pras bandas do quintal. Flagraram‑me debaixo dos panos, em pé, junto da pia, cara a cara com o da criatura lavando a louça da casa. Investiram contra mim, puxaram‑me, tentaram‑me arrancar a orelha, a goela, os cabelos, e botaram‑me de castigo; deram‑me uns safanões e disseram o diabo com a empregada.
Lembrei‑me do Seu Zé da lenha. Era importante achar o que fazer naquele tempo e sublime era ter uma missão. Talvez a minha segunda atribuição na vida tenha sido esta. Quando a carroça daquele vendedor apontava na esquina, já os via, e, contente levantava‑me do chão e me dirigia à porta da rua; enchia os pulmões e gritava: "Vó... o home da lenha!?..." desta maneira, cumpria a nobre missão de comunicador, estilo grego, e garantia, vez por outra, a permanência responsável na calçada. A sua carroça continha lenha de sabiá, cortada em quatro. Era lenha boa, seca e vermelha, para fazer funcionar os fogões daquela época, quase no centro da cidade. Talvez, a lenha viesse ali das matas de Mondubim ou Aracapé, ou mesmo Soure, naqueles tempos matas cerradas. Observava atento o transporte até a cozinha. Em seguida a carroça ia para a casa vizinha, e assim por diante. Na casa do Dr. Arthur Chagas, ao lado, dentista dos mais velhos e conceituados na capital. Ali a compra de lenha era em quantidade. Lá vinha ele todo pronto, camisa branca, gravata, de suspensório com o relógio de algibeira todo cheio de autoridade em plena manhã de sol para pagar a lenha. Depois desse episódio estafante o menino logo era chamado para dentro de casa.AS CIRANDAS


As novidades da época eram as estórias infantis, fábulas, contos, parlendas, piadas, brinquedos diversos; na casa dos meus pais e dos meus avós as brincadeiras em grupos, os passeios, cantigas de roda incentivadas pela família, tudo era para a criançada. Os primos e primas tinham presença certa, bem como meu irmão Ricardo nos primeiros momentos da vida sob os olhares de todos.
Primeiro na Av. Tristão Gonçalves, onde, com quatro anos, freqüentava a residência dos avós paternos.... Eram poucos minutos e representavam larga tarefa. Lá vem a Francisca, empregada da casa. Unidunitê, salamêminguê, um sorvete colorê, o escolhido foi você. Ela recebia logo as ordens de nos entreter na calçada. Vão brincar: dizia a minha avó Otília. Sentados no fio de pedra ou mesmo paralelepípedo, pois naquele tempo tudo era pelo caminho mais comum. A Francisca, moça franzina, dos lados de Quixeramobim, terra dos meus avós, bem conhecida das cirandas sertanejas e muitas canções divertidas. Ela sempre iniciava as cantorias e nos indicava para falar, cantar e bater palmas. E começava... Eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré, Eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, descí. Que coisa mais fantástica... ouvíamos aquilo e em côro, produzido por nós mesmos. E ainda mais que ela cantava uma, duas, três, quatro vezes a mais. Era uma espécie de recital minúsculo, mas ficou para a vida inteira. De repente a nossa animadora nos oferecia ainda boa quantidade de risadas do sol (boca de riso a ver todos os dentes) e dizia que tirassemos a roupa que agora é hora do banho.


Lunch fortalezense

Palavra moderna que só existia no sul do Brasil: surgia uma faustosa laranja que era descascada e repartida em gomos. Algumas vezes caia do céu da cozinha uma obra de arte, vindo talvez das lembranças da família portuguesa. Constava de duas fatias de pão, bife, acebolado e atomatado, a base de vinagre, açúcar, sal e manteiga, modéstia parte, feito no fogão de lenha da casa, em plena dez horas da manhã. Faz mais de 50 anos que eu como esse manjar ensinado pela tia Marla, uma tia legítima, que hoje faz manjares no ceu, e até hoje lhe agradeço a ela. Era a representação máxima de um quitute palaciano para calar a boca do Roberto. Depois o sono reparador que era entrecortado às vezes pela passagem de um dos modernos ônibus, ano de 1951, da empresa Otoch, ou um jipe willys 1951, ou até um belo studebacker ou plymouth a buzinar, como o do Zé Pereira filho do tio Antônio, como diziam, rico fazendeiro que morava na av. do Imperador. Às vezes, ouvia‑se na rua a pancada do cassetete no tablado de madeira do homem que vendia panelada à tarde – pããã...n e l a d... e figô. Eram duas horas da tarde. Ou o vendedor de cuscuz paulista. Tudo era encantado e sonoro. Tudo eu via e ouvia como num sonho. Era hora de ir para a calçada, tomava‑se banho e aquele aprontamento para calçar as butinas, e quando a sombra chegasse a passar do paralelepípedo, aí sim, podia‑se andar na calçada, mas, só na dimensão da nossa casa. Botavam uma cadeira pequena ou um banco e lá ficava a admirar os andantes que vinham da praça da lagoinha e os da Av. Duque de Caxias. Mais tarde, surgia a bendita tia Marlene e suas amigas. A Daurinha e a Eliete, por quem eu tinha verdadeira admiração e paixão (não raras vezes a imagem da segunda me deixava em estado catatônico, por ser alta, cor de canela, linda!). Talvez tenha sido esta imagem, da mulher que primeiro me fascinou, em matéria de beleza e corpo, pela caracteristica exótica da Eliete (elegante e silenciosa) e, por que não dizer pela escultura magra, lembrava as gregas estátuas feitas exclusivamente para serem admiradas. Tinha de conter, entretanto, a minha imaginação muitas vezes cheia de mirabolantes fantasias de criança. Era, pois, inexplicável uma criança possuir esses dons, ou arrufos, a capacidade e o interesse de análise sobre uma mulher, quanto mais, daquele tamanho fazendo um papel desses de tarado. Os motivos eram vários. Não ficava bem uma criança se manifestar. Era motivo de risos desordenados e farta gozação, para usar uma palavra que só se usava, exclusivamente naquele tempo, no sul do País. Gozação aqui no Ceará era, legitimamente, ainda, outra coisa bem diferente, reconhecia o primogênito.
Outro acontecimento registrado foi a inauguração do 1º edifício de nove andares de Fortaleza, do Pimentel do álcool, na esquina das ruas Pedro I e Teresa Cristina, onde ainda hoje existe. Foi um acontecimento importante. Só para a inauguração desse prédio as mulheres chegavam de chapéu e os homens de paletó e gravata. A festa foi em alto estilo e todos participaram com muita alegria do surgimento do primeiro edifício residencial da cidade de Fortaleza. O Pimentel. E eu estava lá, pois, ao lado, na Imperador. Há 58 anos.

50 ANOS NA AV. 13 DE MAIO

Depois da inauguração da Paróquia de Fátima, na Av. 13 de Maio, no ano de 1955, o bairro veio a ser cobiçado como promissor, e, em grau de importância, chegou a ser dito por muitos que seria o bairro do futuro, tão importante quanto a
Aldeota. Achavam que a cidade não tinha mais para onde crescer e que a imensa faixa de terra plana cheia de matas, principalmente do lado do sertão, onde tinha sítios de cajueiros e mangueiras, seria explorado. Quase tudo era mata do Dumma. Casas bonitas foram feitas por engenheiros e arquitetos importantes como Ageu Romero e dezenas de outros. Residências foram sendo ocupadas por importantes e ricas famílias, donos de indústrias e casas de comércio no centro da cidade onde quase tudo era verde e com árvores cheia de passarinhos. Em lotes pequenos, a maioria construiu suas casas que chamavam modernamente de os novos bangalôs.
A Av. 13 de Maio era o grande negócio imobiliário naquele momento e todos tinham visão midiatizada, digamos, globalizada. A estrada do sol, ou Av. 13 de Maio começa na Visconde do Rio Branco e termina no trilho do Parque Araxá. Para o nascente, a precária Pontes Vieira. Pequeninas casas, muito barro, calçamento e coqueiral; era só o que mais se via ali. Do lado contrário, ou seja, para o nascente, o final da Av. 13 de Maio e o início da estreita rua do Parque Araxá, também cheia de casinhas. Fátima surgia, então, como bairro dos novos ricos, com calçamento, iluminação, casas de sobrado por todos os lados e, uma larga perspectiva de crescimento. Uma das primeiras residências deste lado do bairro, ou seja, o da Paróquia de Fátima, foi uma casa bangalô construída há mais de 60 anos, distante um quarteirão e meio da Av. 13 de Maio para o lado do riacho do Jardim América, no meio das matas, sem sistema de água, esgoto, ônibus, e nenhum comércio ou qualquer infra‑estrutura, por perto. Era na rua Pe. Leopoldo Fernandes em frente a nossa casa n. 168. Casa onde morava o seu Albertino e D. Suzete e filhos.
A Paróquia de Fátima, certamente não há que negar, em nome do seu primeiro vigário, o padre Gerardo, foi a grande responsável pela sustentação e
performance do bairro. Muitas reuniões foram feitas com os moradores e, vagarosamente, cumprindo o seu papel, a Igreja conseguiu cercar‑se de muitas famílias, ao mesmo tempo em que abraçava a todos em torno dela. Daí veio a consolidação do bairro de Fátima, mais loteamentos, novas ruas e tudo começou a mudar.
Os primeiros divertimentos do bairro era o futebol que se jogava em frente a Igreja, onde se via os treinos do Fortaleza x Ceará, aos domingos e, eventualmente, quando não havia jogo, acampamento de ciganos nesse mesmo
local. Diga‑se rapidamente, este local era uma espécie de imensa praia de areia limpa, talvez proveniente das enormes enchentes em tempos remotos, do caudaloso rio que corria ao longo da Av. Aguanambi, (hoje, o canal) transformando tudo em grande praia nessas imediações da avenida 13 de maio.. Hoje, o estuário desse rio é um canal de esgotos que corta a Av. 13 de Maio e é encaminhado para o Lagamar, que desemboca no rio Cocó e em seguida no mar. De ano em ano, também tínhamos as festas da paróquia, os leilões, as novenas aos domingos, alguns arriscavam sair de suas casas a dar pequenos passeios a ver distante alguns aviões na Base Aérea de Fortaleza, pois tudo era descampado e, quem sabe, para conhecer novos moradores.
Havia um riacho que cortava as matas mais baixas da Av. 13 de Maio, era o Jardim América (este que hoje é o canal ao longo
da Av. Eduardo Girão), naquela época com milhares de peixes (corta todo o Bairro de Fátima). Tudo era pitoresco e envolto em clima agradável, típico das promissoras fazendas e sítios, como as que tínhamos próximas. A do doutor Almendra, que ficava em frente ao 10° GAC, na Av. Luciano Carneiro, com criação de cavalos e gado leiteiro; a do doutor Agenor, com frutas diversas, onde é o Centro Educacional e a do doutor Pergentino Ferreira que se localizava exatamente onde hoje é o conjunto de prédios residenciais Segredo de Fátima, nas proximidades da rodoviária – A casa sede desse sítio era muito grande e toda cercada de alpendres, cujas colunas lembravam as curvas em meia lua do Palácio da Alvorada, na Capital Federal. Tudo se via de longe: a lagoa, os currais, as plantações, toda a bela imagem da fazenda do doutor Pergentino Ferreira. Quem olhasse para direita ao ingressar na estrada rumo a Messejana, via‑se a paisagem. Lá se criavam também gansos enormes, que, em conjunto, faziam um barulho infernal para afugentar estranhos quando se faziam presentes no local.
A empresa de ônibus que servia o bairro ajudou muito também, uma vez que nem todos dispunham de carro próprio. A maioria, no início, não tinha carros e ia para o centro de ônibus. Muitos ainda não eram empresários importantes, mas com o tempo se tornaram pessoas muito conhecidas da sociedade como donos de lojas e casas comerciais famosas da Praça do
Ferreira. Os ônibus da empresa Pedreira eram poucos e estilo calhambeque; demoravam a passar porque tinham que andar devagar pelos buracos do calçamento da Av. 13 de Maio, paradas constantes e nenhuma empresa para competir. Dentro dos ônibus cheios, constantemente, era um sufoco, como diziam. Para descer numa parada de ônibus, alguém puxava a famosa “cordinha lateral” que acionava do lado do motorista; era nada mais e nada menos que um pequeno chocalho de cabra, naturalmente para fazer um barulho estranho ao ambiente, mais alto que a trepidação enorme que esse imenso veículo proporcionava.
Era comum, para as pessoas que moravam para o lado da Igreja, andarem a pé, de suas casas, para apanharem o ônibus na Av. 13 de Maio. Este só passava de duas em duas horas, às vezes até mais de duas, por isso, sempre tinha alguém esperando numa esquina da avenida, e este, a todo instante olhava sempre para ver quando o veículo apontava distante. Quando longe ele surgia, inconfundível, aí se ouviam os gritos para
alertar a quem estivesse no meio do quarteirão a caminho do ponto: corre...?! Lá vem um ônibus... A pessoa às vezes encontrava‑se distante um quarteirão e saía em disparada para não ficar esperando pelo outro veículo com destino a Praça do Ferreira. Muito tempo depois surgiram os microônibus da empresa São José de Ribamar com nome de Bairro de Fátima e circulava entre as ruas do bairro. A partir daí, ficou mais fácil chegar na Praça Coração de Jesus, local onde esses veículos deixavam todos os passageiros, de lá retornando para a Av. 13 de Maio.
O primeiro bar com três ou quatro cadeiras na calçada foi um sucesso enorme. Muitos imaginaram logo que outros fariam o mesmo, transformando a avenida e implantando de vez o estilo americanizado no bairro. Chamava‑se Ponto Quente, na esquina da Av. 13 de Maio com a rua
Napoleão Laureano, onde hoje é o Mercadinho Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (fechado). Pela primeira vez, fora do centro da cidade, podíamos comer sanduíche mixto quente com coca-cola ou cachorro quente, únicas novidades extras existente em toda a extensão da avenida 13 de maio. O primeiro local chic que serviu para encontros sociais no Bairro de Fátima foi lá, no Ponto Quente, muito tempo depois surgiu o clube S.B.F., típico da Av. 13 de Maio ou da Sociedade do Bairro de Fátima, onde o Sr. Eduardo e o Sr. Cajazeiras foram, com certeza, um dos cinco diretores mais empreendedores. Ali nasceu a felicidade de muitos casais do bairro, pois foi onde desfilou as deusas que as mães guardavam em casa. Todo fim de semana se podia dançar, jogar voleibol, futebol, e divertir‑se próximo de casa. Lá conhecemos as mais lindas mulheres da região. Era um centro social de muitas atividades, onde reunia em grandes eventos os mais conhecidos jovens não só da localidade, mas de outros bairros próximos, desde a av. Lauro Maia até a avenida Visconde do Rio Branco. Quem freqüentava a S.B.F, incluía‑se no roteiro dos grandes eventos. Passaram por lá os mais importantes conjuntos e bandas do Nordeste, como Alberto Mota e seu conjunto, Os Brasas, Ivonildo e seu conjunto, Canhoto e seu conjunto, Os Tremendões e mais outros de destaque que eram conhecidos no Nordeste. Muitos rapazes e moças tinham como certa essa trajetória da Av. 13 de Maio, mas de toda Fortaleza. O clube Maguary oferecia eventos maiores e festas mais importantes; era comum sair do Maguary e terminar a festa na S.B.F ou vice‑versa. Muitos rapazes e moças tinham como certa esta trajetória nos finais de semana. Naquele tempo, não existia os Chicos do Caranguejo. E as músicas mais badaladas eram: “Há um alguém..., na multidão... que vai lhe adorar..., com devoção..., ou, “Moon River”..., “Bobby Sollo”, “Nico Fidenco”, “Domenico”, “Tequila”, “Caramelito”, Mambo Cubano”, “Mambo Jambo”, “Sumer Holliday”, “Volare”, “Not for Sale”, “The Pop’s”, “The Platters” e por que não Ivonildo e seu conjunto ou um dos maiores sucessos do mundo, “The Great: pretendet” ou mesmo “The Mamas and Papas”; assim, os mais alucinados jovens dançarinos, pode-se dizer, nunca deixavam de ver nos olhos das suas garotas que se transformavam em (verdadeiras compotas de lágrimas), quando tocava uma das músicas mais contagiantes como “coruja”, imagine, “coruja... “você agindo assim só vai sofrer, pois chegará o dia em que ninguém vai perceber, existe uma coruja no lugar... coruja...”. E para os mais bregas, Paulo Sérgio, com a Última Canção... ou quem não se deliciou ouvindo ou cantando... “Quero que você... me aqueça nesse inverno, e que tudo mais vá pró Inferno...
A praia do futuro era o maior deserto que conhecíamos em Fortaleza. (Nossa turma da 13 vivia lá também). Havia as
luaradas, para quem desejava um piquenique a noite na praia, com todo mundo “arrumado”, digamos assim. Eram feitos encontros na beira mar, ou outra praia qualquer, onde se levava um grupo de amigos com as namoradas para sentar na areia. Tomava‑se drink drea.. trazidos de casa, gelado, (uma das mães teria de ser portadora desse ideal sonífero) e comia‑se um sanduíche caseiro, (pão de forma - com o tradicional corte das partes queimadas e recheio de presunto enlatado) geralmente preparado, trambém, por uma das mães das meninas, ou a mais prendada, digamos assim.
As ruas mais agitadas naquele tempo da “bossa nova”, na Av. 13 de Maio eram a Saldanha Marinho, a Pe. Leopoldo Fernandes e Napoleão Nureano, Mário Mamede e outras, onde havia maior permanência de jovens festeiros. Todas bem próximas da Igreja de Fátima, nosso centro religioso e cultural ao mesmo tempo.
Um dia chegou o twist e os namorados da Vanessa e Vládia, filhas do Sr. Mancito, (moravam na rua Pe. Leopoldo Fernandes) foram os lançadores dessa música aqui no bairro. Foi qualquer coisa assustadora para todos, pois não se conhecia esse jeito descontraído de dançar. Um sucesso garantido durante noites e noites seguidas aqueles dançarinos modernos que mostravam um estilo americanizado de dançar. Os mais beneficiados com tudo isso foi a nossa turma festeira, composta pela Aíla e a Ângela, a Glória, Medina, a Ana Célia e a Célia Sá, além da Glória Pordeus, o Cláudio, o Gerardo e Glória, sua irmã e os meus irmãos. A proporção que outras ruas iam tomando conhecimento vinham se aproximando dessa casa. Era uma música de som alto e todos se arrepiavam estranhamente pelo desprendimento e desinibição daqueles que sabiam dançar música americana. Vinham pessoas de todos os lugares de Fortaleza. Todo bairro ficou cotaminado. Queriam ver como funcionava a nova moda. Muitos ficavam de olho durante a semana para saber onde era a “tertúlia” do sábado, com certeza, tinha que ter twist para dançar, e certa seria a presença das “turmas”, primeiramente na residência da festinha, depois o clube da S.B.F seguido do Maguary. Não se deixava por menos. Festa era o que não faltava mais. Muitas vezes íamos duas, três e até quatro tertúlias nos fins de semana, mesmo porque na própria festinha tomava-se conhecimento de outra nas redondezas.
Onde tivesse chance de dançar twist, todos queriam ir. Era comum nas casas de família, ser servido o famoso punch de maçã, alguma mistura próxima de maçã picadinha, cachaça, água, açúcar e vinho para dar cor. Esse líquido geralmente ficava em um grande depósito em cima da mesa da sala, junto com os copos para ser servido à vontade pelos participantes. Essa era a “bomba atômica” que todos tomavam como cortesia da chic residência para encorajar e alegrar os participantes. Era um grande depósito transparente cheio daquele tônico, com os pedaços de maçã flutuando. Naquele tempo, ainda existia a concepção da inibição e os casais gostavam de algo relaxante para “criar coragem”. Nem que no outro dia sua cabeça sentisse que ia estourar. Nas casas mais sofisticadas servia-se sanduíche em pão de forma, elegantemente, cortado nas laterais, com pasta apresuntada e cortado ao meio, mas, feliz aquele que tomasse um copo de coca-cola só oferecido aos íntimos.
Assim era a Av. 13 de Maio. O comércio se restringia a pequenas mercearias. Não tinha nenhum comércio além das mercearias. As maiores foram a do Simeão e Pontista. Tudo era no centro da cidade. Lembro de um dia, reunidos no casarão do meu amigo poeta, o Dr. Mamede Cirino Jucá, um dos fundadores da Faculdade de Odontologia de Fortaleza, pessoa bem relacionada e cheia de valores, resolvemos comprar uma garrafa de uísque para uma comemoração. A angélica, nossa grande mediadora, facilitou a aquisição de uma garrafa de uisque. O Rogério teve de ir ao centro da cidade de bicicleta, para trazer aquela garrafa, pois era impossível alguém vender este produto aqui na Av. 13 de Maio.
Um acontecimento marcante foi quando inauguraram a Panificadora Central, local ocupado hoje pelo Habbib’s. Tempos depois, vieram umas poucas casas de comércio, sorveterias, depois outras melhores e hoje a Av. 13 de Maio ainda é aquela avenida que guarda além da esperança, os mesmos estilos, mas nunca deixou de pensar, certamente, o melhor bairro de Fortaleza.

NAS MATAS DO DUMMA: PRIMEIROS TEMPOS


As manhãs eram convidativas a longas caminhadas. O sol radiante às primeiras horas do dia despontava sempre aos domingos em meio ao silêncio das ruas e dos campos verdes, com suas trilhas para todos os lados. As tarefas, entretanto, acompanhavam os minutos das horas como que existisse o túnel do tempo. Quanto mais distraído ficássemos dos afazeres, dos estudos, mais se percebia o silêncio do domingo. De repente, o canto sereno de um pássaro ao longe. Quase avisando a calmaria existente na região. Distante, um cachorro latia; lá em cima, vez por outra, um teco-teco corta os céus, sempre no mesmo sentido, talvez anunciando as reuniões matinais no aeroclube de Fortaleza. Se fosse inverno, a hora era sempre a mesma, parece que não mudava, e ficávamos como debaixo de um grande véu branco a cobrir os moradores de Fátima, e juntavam‑se a nós os trovões próximos e longínquos, em pancadas surdas, como se fossem das bandas de Maranguape. O clima era com ventos, cheiro de mato; à noite, suave brisa. Não havia prédios, asfalto. Havia densas matas, lagoas, açude e um longo riacho.
Assim, a olhos vistos, a rotina do silêncio e a paz em que vivíamos. Um reboliço na rua, no portão; alguém em cima de um cavalo enxotando quatro vacas leiteiras que andam pastando na Pe. Leopoldo Fernandes. De quando em quando éramos surpreendidos com um bezerro berrando parado no portão de nossa casa ou patas e galinhas com suas crias no meio da rua.
Aos sábados era comum a arrumação da casa. Encerava-se os mosaicos com cera cachopa e passava-se enceradeira. Se estivesse faltando energia passava-se o escovão.
Mais tarde, ou no domingo, vozes altas na sala. Não podia ser vizinho, pois ninguém se atrevia ir em outra casa; muito menos fazer visitas. Só familiares eram capazes disso. Palmas no portão, enfim, conhecidos, visita chegando... era o Seu Pedro de Lima Ferreira, pai do meu pai, de paletó branco e gravata em plena manhã. Outras vezes vinha a dona Otília, a avó, mãe do meu pai e a Aldanila, tia. Nos semblantes via‑se o prazer de estarem sendo recebidos na nova e promissora residência.
Um dia resolveram fazer pequena reunião no meu aniversário. Recebi da minha avó um dos melhores presentes – um saco pesado, de pano, cheio de moedas variadas – não pude deixar de me sentir feito na vida. Achava que o valor contido naquele saco nunca mais me deixaria sem dinheiro. Muitas conversas, reconhecimento dos compartimentos da casa, admiração em tudo que se via, cheiro de bolo no ar e o anúncio para as crianças da melhor coisa melhor do mundo, pastéis com guaraná. Um fato serviu também para registrar aquele dia: ao ir no banheiro da casa, pela primeira vez, o Pedro de Lima teria ficado trancado na hora do almoço pelo emperramento da porta. Meu pai providenciara os recursos para a solução do ocorrido, como lembra o meu irmão Ricardo, que o ajudou nessa operação, pois tiveram que arrancar a porta para o homem poder sair. Falam todos ao mesmo tempo em mistura de cumprimentos, abraços e alegria. Meus avós desejavam logo tomar um copo com água para matar a sede e provar a água da cacimba; um tipo de costume que se transformava em um verdadeiro batizado; achavam‑na diferente, certamente, da água do açude Acarape, abastecedor do centro da cidade de Fortaleza naquela época. Nem pensar em garrafão de água Indaiá.
Milho verde na panela, piqui descaroçado, cheiro de coentro no ar, galinha na panela; eram as primeiras iguarias a serem notadas na cozinha pelos visitantes. De repente, estavam no quintal para ver onde seria construído o futuro galinheiro e efetivada a plantação de caju, cajarana, goiaba, banana e manga, nas quais meu pai falava. Algum tempo, depois de plantadas, viraram mesmo árvores, e deram frutos que nos alimentaram durante anos.
De outra vez chegara em nossa casa, vindos da rua do Imperador, cedo da manhã, o meu avô Raimundo Pontes, a minha avó Eva e uma tia, a Marlene. Aos domingos gostavam de ir conferir as novidades do bairro distante do centro, a Av. 13 de Maio, ainda cheio da alma sertaneja. Neste dia tínhamos, eu e meu irmão Ricardo, as caminhadas garantidas para a Fazenda Canadá, do Pergentino Ferreira. Ah... velhos mangueirais, estrada das charretes... cheiro de terra molhada... e o chaqualhar das águas nas grandes pedras escuras da barragem do velho açude do Pergentino Ferreira, exatamente onde hoje fica o conjunto residencial Recanto das Acácias. Em casa, a primeira providência da minha mãe era autorizar a empregada a dar continuidade aos preparativos do dia para o bom recebimento da importante comitiva. Providenciava‑se o abate de duas galinhas gordas, a confecção do almoço com verduras, macarrão, doce de goiaba e, certamente tapioca com café para às 15 horas. Meu pai desentocava uma garrafa de frisante e ouvia na sua velha pick-up. Para nós, refresco de limão à evitar gripes. Ordens à empregada a não esquecer de varrer o quintal e o cimento (área lateral e frente da nossa casa), e, “aguar” as plantas.
Meu pai não podia deixar de armar no alpendre da casa uma alva rede de tear. Pesadas cadeiras de balanço do outro lado do alpendre servem para a animada conversação a esperar o almoço. Antes dessa ocasião, umas borrifadas de flit no ar e nos cantos da sala, para “espantar” as moscas. Naquele tempo, quase tudo eram matas e de lá vinham os insetos para as residências. Todos são indicados a lavar as mãos, e em seguida, atender as palmas que sinalizavam mesa posta. Meu pai sempre na cabeceira principal, num verdadeiro ritual. Ele era o primeiro a sentar‑se, seguido de minha mãe e os filhos. Os familiares se defrontavam com aquele momento formal, mas já conheciam o ritmo meio inglês do dono da casa que tudo fazia exemplarmente.
Os pratos eram emborcados para não serem tocados por nenhuma mosca, os guardanapos brancos ficavam sempre do lado, junto com o copo e talheres. Alguém era convocado para antes das refeições, ficar bailando ou aerobicamente movimentando um guardanapo pra lá e pra cá dissipando o flit e um e outro inseto que porventura resistisse.
Primeiro vinha um molho, com algumas pimentas de cheiro em caldo de feijão, depois o primeiro prato; salada de verduras, seguido de outros. Meu pai servia-se primeiro, servia a minha mãe e em seguida todos faziam o mesmo. O silêncio tomava conta aparentemente, pois nos indicavam, às crianças, que ao comer não se devia falar. Não podia‑se dispensar, no final das refeições, neste dia, bananas e compota especial de goiabas em calda ou doce de leite feito em casa, seguido de um bom copo com água gelada em nossa frigidaire. Água da cacimba (filtrada). No período da tarde, os visitantes ainda conversavam demoradamente, e em seguida, se preparavam para providenciar o retorno à Av. do Imperador.
Fim de semana as tarefas da minha mãe aumentavam. Depois da semana de trabalho no Centro de Saúde é natural descansar, mas ela nos mostrava o contrário. Muito trabalho e envolvimento com as arrumações e preparativos também para a semana seguinte.
Tudo voltava ao normal, e como àquelas manhãs e tardes nunca mais. À noitinha minha mãe nos chamava para tomar àquela deliciosa sopa, seguida de café com leite e pão. As cadeiras iam para a calçada pelas mãos das empregadas e todos ficavam a ver o pouco movimento na calçada. Era hora de colocar flit de novo, nos quartos, antes das muriçocas ingressarem nos quartos. Na calçada se pronunciava um cumprimento sonoro e uníssono, “boa noite”, para todos que passassem. Os raros passantes tinham o hábito de cumprimentar e, com certeza, à aproximação de alguém, todos ficávamos aguardando a sua passagem para responder, em coro, o cordial “boa noite”. Às 20 horas era a hora de recolher as cadeiras, botar o cadeado no portão, fechar as portas da frente e do quintal e, as janelas basculantes, soltar a cachorra “duquesa” e ir dormir ao som dos sapos e grilos lá de fora, como se fosse numa grande fazenda. Não existia o luxo da televisão, não havia movimento de carros, buzina.
Enquanto minha mãe pacientemente embalava em rede a irmã mais velha cantava suavemente: “A Treze de Maio, na cova da Iria, no céu aparece a Virgem Maria...” Meu pai, na sala às vezes sentava com ela, sobre o seu peito esperando, após lhe dar a mamadeira, que ela desse o bom sinal de digestão, enquanto ouvia valsas vienenses, e acariciava as suas costas.
Noutros tempos veio a televisão, mais adiante, a grande novidade: aquisição de um jipe wills 1957. Algo fantástico que iria transformar o comportamento de todos nós. Muitas pequenas viagens fizemos em forma de piquenique. Ao Acarape, Aquiraz, Messejana, Caucaia, Prainha, Maranguape, Guaiúba. Mas de tempos em tempos, íamos para a Villa Cazumba, na dona Laura, sítio próximo da Casa de José de Alencar. Era um paraíso de fruteiras e muito espaço para andar e pescar. Certa vez, quando íamos passando na estrada, lá em Mecejana, meu pai dizia, fazendo referência a uma bela residência no meio daquelas matas. Era uma casa onde estacionavam alguns carros do lado de fora e lá de dentro se via sair muita fumaça: Ele dizia como se o dono daquela casa fosse seu amigo: Epa! Hoje é Domingo, dia de assar carne no sítio Senador, pai do Tasso Jereissati, Carlos Jereissati. Naquele tempo em Fortaleza, fazer churrasco em grande estilo, em casa de campo, era prática exclusiva dos abastados.
Veio o tempo das bicicletas e fui presenteado com uma importada Merckswiss equipada de apetrechos. A partir daí, conheci todos os recantos da Av. 13 de Maio, juntamente com colegas e irmãos a integrar grupos de ciclistas do bairro. Tive, por assim dizer, uma espécie de primeira maioridade com sucesso garantido, por ter conseguido cedo este fabuloso meio de emancipação. A minha vida foi acelerada em todos os sentidos e, a partir daí, adquiri experiência e sucesso em tudo que fazia. Foi para mim uma grande conquista, ir para o Liceu do Ceará, durante anos no meu próprio meio de transporte.


FÁTIMA - Bairro Abençoado


Ele nasceu, quem sabe, de um fio de estrada que existia antes da cidade de Fortaleza propriamente dita, ligando o nascente ao poente; nasceu dos ventos uivantes das matas, do cheiro de água doce dos riachos existentes; ela nasceu, talvez, do farfalhar das bananeirais, da fértil sombra tênue dos milhares de coqueiros da região. Nasceu certamente com o grito dos índios canoeiros e no silêncio deles caçando onça pintada, ou pescando, na época em que os curumins se misturavam e se abandoavam aos passarinhos.
No verde da selva baixa das matas que seguiam para a foz distante do rio Cocó, eis que surge a esperança de uma estrada que daria o nome a um bairro chamado Fátima. Como predestinada a ser a florescente região abençoada pelas bênçãos de uma santa, na certa quando tudo indicava a transformação de todos os riachos, lagoas, açudes, alagados e matas, neste imenso cenário residencial e comercial, nasce uma longa estrada que em breve ganharia o nome de Av. 13 de Maio. Era uma longa artéria aberta no meio da mata sem fim. E tudo passou tão ligeiro... até que vieram os novos ocupantes cheios de documentos das terras prometidas; os posseiros, depois, os coronéis. Eram as matas do Dumma, rasgada que estava pela nesga gigante, futura estrada do sol, via de principal acesso aos futuros aglomerados civilizados. Com ela, veio as criações de gado, os grandes pastos; os arrozais dos alagados, (Aguananbi e contorno) as plantações de milho e mandioca. Eram os novos ocupantes, os fazendeiros que moravam na cidade e no campo, ao mesmo tempo em suas belas mansões ou casas de fazenda onde abrigavam as suas famílias. O acesso para suas fazendas então se dava por esta via que, por causa do ambiente promissor passara a se chamar Bom Futuro.
E logo, vieram as denominações para esta estrada que também se chamara do Sol. Tudo o que transitava por ela vinha da estrada do gado ou estrada de Mecejana, estrada viscinal às três fazendas da localidade. Consolidava-se aquela que cortava os extremos da cidade de uma ponta a outra ligando o outro lado da cidade às ruas centrais da Cidade de Fortaleza. Tudo era o começo da Av. 13 de Maio, sob os olhares atentos de alguns moradores e ocupantes das terras do doutor Pergentino, doutor Almendra e doutor Aldenor, assistida que foi pela presença de muitas outras casas e algumas aglomerações. E quem passava por ela, depois chamada a Flor do Prado, podia ver de uma ponta a outra as muitas residências do bairro Prado, futuro Benfica, do outro, casas e chácaras – bairro Vermelho – futuro Atapu.
A primeira fazenda, confrontando com o início da estrada do sol, localizava-se no alto onde hoje é o conjunto residencial Segredo de Fátima, de onde se tinha deslumbrante vista do açude da sede da fazenda e dos alagados que ficavam desde a proximidades da fazenda aos extremos da Aguanambi, e que bem se identificava como um imenso pântano. A segunda ficava nas imediações do Centro Educacional, onde hoje ainda existem várias mangueiras centenárias que ficaram, ainda, no final da rua Napoleão Laureano. E a terceira, mantinha a sua sede da fazenda em frente onde hoje é o 10° GAC, na Av. Luciano Carneiro. Casarão bem construído, cheio de áreas cobertas livres e quase toda alpendrada e edificada com as paredes cobertas de pedra lapidada, onde fica hoje a sede da Editora FTD, na Luciano Carneiro. As fazendas possuíam muitas criações e cultivo de frutas e verduras. Eram residências fartas, sempre festivas e concorridas, além de bastante visitadas pelos amigos dos que ali moravam. As festas eram animadas com muitos folguedos e nunca se deixava de perceber muita gente em São João, Natal e Ano Novo, feriados, carnaval e aniversários. Não posso esquecer que na sede da fazenda do doutor Pergentino existia um bando de quarenta, cinqüenta ou mais gansos pretos e brancos, que nunca se cansavam de andar para todos os lados como que mesmo vigiando os quatro cantos da casa dos lados de fora. Quando algum estranho aparecia, mesmo que fosse passante, eles corriam atrás ferozmente e atacavam com bicadas e quachás ensurdecedores. As charretes, os carros, cavalos e passantes teriam de andar sempre devagar para não chamar atenção dessas aves. Na fazenda-sítio do doutor Almendra havia criação de cavalos, charretes e muitas fruteiras; na outra, imperava a criação de gado leiteiro, e o leite sempre era vendido para muitas residências nessa Av. 13 de Maio até alguns anos atrás.
Veio o calçamento da Av. 13 de Maio, feito com pedras toscas de rio e a doação do terreno para ser edificada a Paróquia de Fátima pelo doutor Pergentino Ferreira e esposa. O calçamento da Av. 13 de Maio era feito de pedras tão pontiagudas e mal distribuídas que, o carro que passasse por ela, tinha que desenvolver o mínimo de velocidade, pois se acelerasse, esse carro no mesmo dia estaria precisando de consertos. Longe da Av. 13 de Maio, em outros bairros, muitos diziam, quando avistavam um local cheio de buracos, "parece o calçamento da Av. 13 de Maio". Com a Igreja de Fátima, veio a venda de mais lotes de terra e a abertura de muitas ruas. A via de acesso se tornou importante e alguns começaram a comprar lotes ao longo da avenida e nas laterais extremas direita e esquerda, isto é, para o lado do sertão e para o lado do centro da cidade. No Início, poucos desejavam ter a sua residência em local tão distante do centro da cidade, pois Fortaleza tinha poucos bairros ainda, e tudo centralizava-se na Praça do Ferreira. Era preciso ser um visionário para almejar bom futuro para o bairro que ensaiava ser somente para os abastados e pessoas de alto nível.
Surgiu a idéia de centenas de pessoas que a data 13 de maio era importante e referia-se a Nossa Senhora de Fátima, pois que deveria ser construída uma Igreja, sem dúvidas em homenagem a Nossa Senhora de Fátima. Logo, passaram a examinar este projeto com carinho; contrataram arquitetos e, em 1955, fizeram a inauguração com a imagem da Virgem de Fátima, que veio direto de Portugal especialmente para a festa. Na inauguração da Igreja houve um fato inusitado: na ocasião das falas pela inauguração, o palanque estava cheio demais e proibiram qualquer pessoa subir. Só que os grandes benfeitores – Dr. Pergentino Ferreira e esposa ainda não tinham chegado para a festa – e ao chegarem não havia mais lugar, pois a multidão era grande. Resolveram ficar parados e assistiram tudo muito tristes a boa distância do palanque. Alguém os viu e certamente foram chamar o casal, pois eles deveriam estar no palanque. Logo perceberam a indelicadeza de não guardarem um lugar reservado e resolveram assistir de onde estavam mesmo. (Stélio, o neto do Dr. Pergentino é que conta essa história).
Logo, os moradores de Fátima começaram, através da orientação paroquial, a se reunir e organizar diversos tipos de reuniões com a intenção de congregar mais fiéis. Com isto veio a consciência solidária e a distribuição de atividades em toda a comunidade fazendo nascer novos grupos pastorais, que tanto influenciaram os quatro cantos do bairro de Fátima e os próprios moradores da Av. 13 de Maio. O bairro sempre se caracterizou pela paz e tranqüilidade, o seu crescimento residencial e comercial tirou-lhe, enfim, o bucolismo e a imensa vontade de ser o bairro mais aprazível de Fortaleza.
Sem exorbitâncias, como que por providência divina, suas casas são construídas em lotes médios, possui ruas bem definidas, asfaltadas; é composta de irrestrito comércio, e tem infra-estrutura compatível a elegantes bairros da cidade de Fortaleza. Tem significativo número de equipamentos de educação, saúde e transporte, segurança, e hoje conta com bancos, clínicas de saúde, edifícios residenciais, comerciais, restaurantes, boutiques de grife e postos de serviço. Hoje, o seu referencial econômico de casas e apartamentos é equivalente ao da Aldeota.
O NASCIMENTO DA AVENIDA 13 DE MAIO


Nos anos de 1910, em um arrabalde de Fortaleza, São João do Tauape, no encontro das atuais avenidas Visconde do Rio Branco e Pontes Vieira, havia diariamente, dezenas de comboieiros vindos do interior que ali paravam, diariamente, para descanso e reorganização dos seus trabalhos a troca, venda e compra de todo tipo de mercadoria trazida do interior. A este ponto de encontro os nativos deram-lhe o nome de Tauape, significando tauá-barro, pé-caminho; caminho de barro. Por invocação a São João, foi erguida uma capela no local, daí surgindo o nome de São João do Tauape, (1948) segundo o historiador Márlio Falcão.
Os mercadores já se encontravam próximo do seu objetivo, o centro de Fortaleza, mas não era justo seguir toda vida cidade adentro com bois, cargas em cavalos e jumentos pela avenida Visconde do Rio Branco, afinal, gerava tumulto e perigo entre os moradores das casas, atrapalhava os carros e o bonde da Visconde do Rio Branco, que percorria toda avenida até a "terceira" parada, isto é, o final da linha, próximo da esquina onde funcionou o Cine Atapu, da Cinemar, inaugurado em 11.03.1950, conforme relata o historiador Miguel Ângelo de Azevedo - Nirez.
A cidade de Fortaleza crescia e necessitava de cuidados essenciais, não podia permitir mais o ingresso de animais a sujar a avenida e centro da cidade. Nasceu então a idéia do traço de união. Abrir novas ruas e avenidas, antes da cidade, para facilitar a vida de todos. Foi justamente aí que planejaram unir o São João do Tauape com o Benfica, por uma estrada calçamentada e iluminada, já que existia um precário caminho. Seria uma importante avenida que desse acesso aos mercados, outros bairros e dezenas de ruas facilitando as intercomunicações entre bairros. O meio mais fácil seria seguir pela mata rumo ao oeste (futura Av. 13 de Maio) descendo nas férteis terras de pousada e boa caça e pesca, onde havia o encontro de riachos e açude na Fazenda Canadá, do doutor Pergentino Ferreira. Todos os meios de transportes seriam beneficiados. Seguiriam com as suas mercadorias por toda avenida, sem impedimentos, até o bairro Benfica ou Prado, passando por diversas ruas atingindo os objetivos, relata Geraldo Nobre, do Instituto Histórico do Ceará.
O então prefeito de Fortaleza, Acrísio Moreira da Rocha, providenciou, juntamente com sua comitiva, um encontro de amigos com o dono das terras. Teria sido discutida na Fazendo Canadá a criação (hoje no local da sede desta antiga fazenda Canadá, encontra-se construído o conjunto residencial Segredo de Fátima) de "uma grande rua que beneficiasse a todos da região, facilitando o acesso para vários bairros". A resposta do dono das terras ao prefeito foi de que ele teria ao seu dispor, não só uma rua, mas terras para uma avenida inteira, se assim o desejasse, reafirma Silvio Theorga, neto do doutor Pergentino Ferreira, então com 13 anos de Idade, quando assistiu toda reunião naquela tarde na sede do Fazenda Canadá.
A grande obra da prefeitura ligaria o bairro São João do Tauape ao antigo Prado, hoje Gentilândia ou Benfica. Naquele tempo o mato alto descia dos dois lados da estrada até o riacho. Quem desejasse vir desse ponto da estrada, isto é, do São João do Tauape para o Prado, teria de seguir uma nesga de terra até a altura de um grande riacho (Aguanambi – no inverno, um grande alagado) atravessá-lo de canoa ou vir pela velha ponte e seguir pela estrada de terra vários quilômetros até próximo ao Prado (altura do CEFET) antigo local de corridas de cavalo. O prefeito Acrísio Moreira da Rocha, logo determinou que fossem iniciados os trabalhos de limpeza da área, cortada a mata, feitos os canais de seguimento do riacho e calçamentada a estrada onde seria a grande avenida. Nos primeiros momentos todos a chamavam de Flor do Prado, relata o memorialista Marciano Lopes, dizendo da constante ornamentação, beleza natural e ligação com o Prado.
Paralelo a tudo, em 09.12.52 chega a Fortaleza, vindo da Europa, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima em visita a algumas Igrejas. O povo, muito devoto, ficou impressionado e o bispo auxiliar de Fortaleza, Dom Eliseu Simões Mendes lançou a idéia da criação de um templo. O doutor Pergentino Ferreira logo se prontificou a doar uma quadra na futura avenida. O que foi feito em 19 de outubro de 1952. O esforço incomum e a enorme motivação fizeram com que Paulo Cabral de Araújo, o novo prefeito de Fortaleza depois de 1952, juntamente com padres e políticos, apoiassem o projeto e fizesse brotar a idéia de um belo santuário para homenagear a santa. Foi formada uma comissão e passaram a visitar vários empresários, e, o engenheiro Luciano Pamplona logo se pôs a elaborar o projeto da Igreja. Veio a pedra fundamental em 28 de dezembro de 1952. Em pouco tempo a Igreja foi edificada, e no ano seguinte, com a nova vinda da imagem santa de Portugal, com a Igreja ainda por terminar, recebeu a imagem peregrina que aqui permaneceu de 14 a 16 de dezembro de 1953, onde foram realizadas várias missas, mas a inauguração somente foi possível em 13 de outubro de 1956. A inauguração da Igreja de Fátima foi ao ar livre, com a presença de dez mil pessoas. Nesta ocasião muitos convidados estiveram presentes e logo que chegaram subiram ao palanque que foi armado para as autoridades. Centenas de pessoas impediram que o Dr. Pergentino Ferreira e sua senhora, D. Argentina, subissem ao palanque para receber as homenagens. Foi terrível o tumulto também foi grande e quem tomava conta do palanque não deixou mais ninguém entrar depois da superlotação. Segundo palavras do Stélio, neto do Pergentino. No dia 12 de outubro de 1955 foi indicado o 1° vigário da paróquia, o padre Gerardo de Andrade Ponte, onde permaneceu por 19 anos. O seu atual vigário é o padre Manoel Lemos Amorim.
Este ano a Igreja de Fátima completa 54 anos de existência e o novenário de Fátima terá um calendário especial. Serão oferecidas a todos várias reuniões na Igreja, sobre o Ano Vocacional em, 13 de maio, serão rezadas várias missas, sendo a primeira às 5 horas da manha e a última às 20h30mim. Sendo encerrada com grande procissão.
A grande surpresa foi quando a Igreja de Fátima foi vítima de tentativa de assalto pela primeira vez. Quanta admiração de todos os moradores ao ouvirem o sino tocar apressado altas horas da noite pelo primeiro e principal ajudante do padre Gerardo Pontes. O Antônio de Souza, providenciou logo fazer alarde quando notou a presença de estranhos. Esta ação de tocar o sino da Igreja várias vezes altas horas, convenhamos, ainda hoje significa acontecimento grave. Logo, dezenas de moradores surgiram silenciosos e espantados no meio da noite e todos com as suas armas em punho, a tomar conhecimento do ocorrido. Ele dormia no andar superior e ao pressintir que alguém entrara na igreja e estava na sacristia, acordou. Não foi à toa quando apanhou a pedra que estava na soleira da porta e a soltou escada abaixo quando pressentiu que o meliante estava subindo. Dizem que o pessoal que trabalhava na obra de construção do canal, para colocação das lages de cimento armado, pois trabalhavam até altas horas da noite, viram quando alguns homens transportavam uma pessoa nos braços e passaram por eles rumo ao cocorote, localidade das imediações da Base Aérea de Fortaleza. Não se soube mais nenhuma informação.
O terreno da Igreja englobava o quarteirão inteiro, por isso pensou-se em ampliações e, foi-se construindo a casa paroquial, salão, Instituto Educacional, quadra de esportes, muros de proteção etc. Hoje nas dependências desta quadra funciona o orgulho da avenida 13 de Maio, o Colégio Santo Tomás de Aquino, que completou também 53 anos de fundação. Este colégio sempre contribuiu com a comunidade de Fátima e já formou, em nível de terceiro grau, muitas autoridades do Estado do Ceará. O seu atual diretor, Vicente Amorim declara: "Em toda nossa existência, nunca deixamos cair o nível de ensino e sempre mantivemos o respeito aos preceitos católicos".
O bairro tomava corpo dia a dia e a Av. 13 de Maio virou atração turística até para quem visitava a cidade, pois todos queriam conhecer a Igreja e passar por esta grande avenida calçamentada e iluminada. Assim, nos seus primeiros momentos, sem deixar de ser bucólica e, mesmo em transformação, os moradores ainda assistiam, naquelas manhãs sertanejas, silenciosas e convidativas a passagem de poucos carros e passeios de pessoas nas matas, riachos, lagoas e trilhas de todos os lados, pois não havia centros comerciais ou movimento de carros, somente duas ou três mercearias. Logo a empresa de ônibus Severino Ribeiro passou a servir o bairro e, alguns ônibus circulavam pela Av. 13 de Maio de hora em hora até o centro da cidade. Um ônibus vinha pelo bairro José Bonifácio até atingir a Av. 13 de Maio e outro pela Visconde do Rio Branco até alcançar a Av. 13 de Maio. Os ônibus. verdadeiros calhambeques, eram todos de madeira recobertos por flandres, demoravam muito a passar e em determinados pontos de espera, surgiam sempre cinco ou seis pessoas, pois poucos tinham o luxo de possuir carro e trabalhavam no centro da cidade, até os que com o tempo se tornaram grandes empresários e donos de lojas famosas do centro da cidade. Para quem estava no ponto de ônibus, era esquisito, permanecia em vigilância olhando de um lado para outro; quando o ônibus despontava ao longe, pois eram poucos os carros que trafegavam na 13 de Maio, sempre alguém estava a gritar para quem vinha se chegando ao ponto: "corre... lá vem um ônibus", e quem não vinha em desabalada carreira. Ninguém podia perdê-lo, senão teria de ficar mais de uma hora a espera de outro. No ônibus, sempre lotado, havia o cobrador circulando apertadamente no meio dos passageiros, em pé, do começo ao fim do ônibus, com várias moedas na mão a cobrar a passagem, entregar a ficha correspondente e passar o troco de cada um. Para descer do coletivo como também era chamado, esticava-se a mão, como ainda hoje, para um dos lados extremos do teto e puxava-se a sinaleira; em alguns, este objeto constituía-se de um chocalho de cabra na extremidade a produzir barulho suficiente; ao puxar o barbante fazia tremer o dito objeto ao lado do motorista que entendia precisar parar. Era sempre uma longa e barulhenta viajem, pois os ônibus de madeira percorriam todo o calçamento da 13 de maio. Para servir as ruas internas do bairro, a Empresa São José do Ribamar comprou do "poierão" um ônibus e implantou, nos anos de 1960, precária linha de micro ônibus com relativo sucesso. Poeirão era o nome de um morador de um vilarejo ligado ao Bairro de Fátima.
Em se tratando de comércio a Av. 13 de Maio passou muitos anos quase com o mesmo formato. Muito depois da inauguração da Igreja, surgiu a primeira sorveteria na esquina da rua Napoleão Laureano, logo transformada em bar com umas poucas cadeiras na calçada. Era uma atração inédita permanente a sorveteria e bar A Normalista, freqüentado por todos. Fora do centro da cidade, alguns se arriscaram a tomar cerveja, sorvete, ou comer no local um sanduíche de primeira linha chamado mixto quente. Duas mercearias maiores serviram muito tempo ao bairro, a Pontista e o Simeão. Logo depois, em 09.03.59, surgiu a Panificadora Central, que serviu ao bairro muitos anos. Na 13 teve também a presença de um restaurante, na esquina da rua padre Leopoldo Fernandes, o B'arbras.
Em se tratando de diversão, antes da missa, nos finais de semana, assistiam-se jogos amistosos entre Fortaleza e Ceará no areal em frente a Igreja de Fátima, hoje praça Pio XII. O único clube próximo a Av. 13 de Maio chamava-se Maguary Esporte Clube, muito freqüentado também pelos que moravam na 13 de maio. Pelos anos de 1965 surgiu o único clube do bairro chamado S.B.F. – Sociedade Bairro de Fátima, ponto de encontro de todos os jovens que moravam na Av. 13 de Maio, bairro de Fátima e adjacências, capitaneado em primeira instância por Mauro Benevides, um dos moradores do bairro.
Hoje o comércio da Av. 13 de Maio atingiu a maturidade, possui vida própria e não deixa a desejar; identifica-se com o dos grandes centros e tem seu equilibrado movimento em cada quarteirão. O comércio funde-se ao do bairro de Fátima e possui o eterno estigma de ser calmo, pois não existe aglomerado de pessoas, prédios ou de veículos. Ao longo da avenida encontram-se vários bancos importantes, lojas de renome e sempre com estacionamentos disponíveis. Suas casas comerciais são amplas e diversificadas servindo desde vestuário, boutiques de alimentos, sorveterias, panificadoras, pousadas, loja de delicatessens, cursos, restaurantes, supermercados, shopping center, farmácias, lojas de automóveis, hospitais etc., e é servida por inúmeras linhas de ônibus, além de, no seu final, encontar-se com a estação do Metrofor, localizada na esquina da Av. 13 de Maio com a Av. Carapinima. Outras importantes instituições da Av. 13 de Maio são o 23° Batalhão de Caçadores do Exército, instalado em 23 de novembro de 1944. O CEFET, antiga Escola Industrial de Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, no campus do Benfica e IBGE; no bairro de Fátima, Instituto de Educação (antiga Escola Normal Pedro II) e Conselho Estadual de Educação, UECE – Universidade Estadual do Ceará e vários colégios e centros de estudos, além de centros comerciais diversificados etc.
Quando falamos em moradia, na Av. 13 de Maio ou Bairro de Fátima, lembramos que muitos moradores optam atualmente por negociar sua residência para que sejam construídos modernos prédios residenciais, sendo visível a nova fase futurística que o bairro está vivendo com bastante sucesso, tendo em vista as dezenas de edificações novas no bairro com prédios de até mais de 20 andares, e com chances de vir a ser novamente o segmento mais procurado da cidade, tanto pelo lado mais acessível, promissor, quanto pelo lado mais cultural e próximo do centro tradicional da velha Fortaleza, dizem alguns corretores de imóveis.

RUMO À CAPITAL


Logo depois dos vinte anos fui residir em Brasília na residência de um parente. Recomendado pelas forças divinas, o Ari Cunha, a muitas preces e a poder das orações da minha mãe. Este tio, desmedido em obras, veio ao Ceará e, entre família aceitou que o acompanhasse à Brasília, onde residia. Sempre disciplinado ao extremo, resolveu, ainda, antes de viajar, indagar se gostaria de tentar a vida na Capital do País. Depois do depoimento que fiz, revelei estar contente e por certo era do meu interesse.
Na noite anterior, nas últimas horas, meus pais me fizeram as recomendações na sala de nossa casa; a luz tênue e os móveis, compartilharam daquele momento; foram os únicos a presenciar aquelas recomendações que finalizavam com votos de sucesso. Minha mãe se manteve forte a duras forças, meu pai mantinha a coragem. Para selar aquele ambiente de pré-despedida do filho mais velho. Meu pai, sob o olhar de minha mãe, entrega-me um envelope contendo os recursos iniciais de minha estada em Brasília. No dia marcado, tudo certo. Ainda surpreso com o privilégio, e frente ao contêiner de surpresas, não imaginava como tudo iria acontecer, pois carregava o primogênito as esperanças de luta e estabilização, uma vez que, ativados estudos na família indicavam, que o exemplo seria referencial para os outros irmãos. Naquele tempo dizia-se, os mais velhos fornecem exemplos para outros. Esquecíamos que cada um nasce com vontades diferentes, interesses diferentes, projetos e virtudes diferentes.

No Goiás


Na Capital Federal fui bem assistido na residência dos tios Ari Cunha e Gerardo Oliveira. A tudo tive direito, pelas mãos da tia Lourdes e Evenita, e a partir daqueles dias, junto aos primos Ari Lopes, Eliana e Raimundo, Cristina, Márcia e Cláudio de Oliveira passamos a viver em busca dos mesmos interesses; estudar e trabalhar para encontrar, cada um, o seu caminho na vida; afinal, formamos um grupo onde havia diferenças de idade, mas todos tínhamos os mesmos ideais. E foi o que fizemos muito bem, graças aos trabalhos, a esperança, o apoio e incentivo dos familiares, e as bençãos, que sempre estiveram acompanhando as forças da natureza de cada um.


Estudante


Passados os primeiros meses na Capital Federal, já familiarizado com a aproximação de novas amizades, e tendo feito o reconhecimento da cidade, descobri o vestibular da nova Faculdade de Ciência da Comunicação Social no Centro Universitário de Brasília. Inscrevi-me para o vestibular de jornalismo. Mais impulsos me jogavam para frente, Achei de lutar pelos meus interesses. Qual não foi a surpresa quando vi meu nome na lista de aprovados no vestibular do CEUB no ano de 1970. Daí para diante, fui me envolvendo com todos os segmentos da Universidade.
Associei-me aos professores Alberto Peres, presidente e fundador do CEUB, ao doutor João Herculino, diretor financeiro, aos professores Clovis Stenzel, Máximo Villar, Ivo Krebs, Germano Galler, Zita de Andrade e aos colegas Marlene Kruger, Lúcio Menezes, Leda Rodrigues, Maria Helena, Elida Rappelo e muitos outros colegas para fundar o Jornal Laboratório, o Jornal do CEUB, que foi onde primeiramente desempenhei a função de minirepórter. Sempre auxiliado pelo Ari Cunha em todos os trâmites. O professor de jornalismo comparado, o cearense Esaú de Carvalho, velho jornalista, (irmão do maestro Eleasar de Carvalho), tudo fez, naqueles tempos, para sustentar e manter vivo todo o espírito do ensino superior de jornalismo com os professores, alunos e Reitor do CEUB, pois esta universidade não tinha sede própria, e durante os primeiros meses tivemos de nos mudar de prédio por três vezes; o Colégio Santa Rosa, D. Bosco e N. S. de Fátima, até ser construído o campus do CEUB na Asa Norte de Brasília. O Esaú de Carvalho também foi mediador ao associar os nossos trabalhos da Faculdade com os Diários Associados, Correio Braziliense, que em nome do grande benfeitor Ari Cunha, conseguiu bolsa de estudos, não só para o Roberto, mas vários outros colegas, juntamente com a franquia de ingresso e permanência em todos os setores do Correio Braziliense. Assim caminhei, com livre acesso a todos os departamentos e seções, aprendendo todos os caminhos da editoração e impressão de jornais nas primeiras máquinas offset chegadas à América Latina, justamente no Correio Braziliense.


Bastante Trabalho


Estive sempre junto à reitoria do CEUB e direção do Correio Braziliense, colaborando com o que podia no âmbito da Faculdade de jornalismo. Criamos um jornal dentro da universidade e este nos dera oportunidade de escrever o que desejavamos, inclusive relatei com destaque o 1º Festival de Música do CEUB EM 1973, onde o nosso cantor Fagner apresentou-se com “Manera FruFru-Manera”. O meu primeiro artigo no Jornal Laboratório foi “Gregarismo e Comunicação”, juntamente com a coluna “painel”, que diziam das atividades dos colegas nas suas inusitadas atuações. Muitos destaques tivemos, pois os próprios colegas nos envolviam em reuniões espetaculares. Já trabalhando no Correio Braziliense, também sob a orientação do gerente industrial Gerardo Oliveira, diretor, (era irmão, parente e tio) tive a oportunidade de conhecer tudo que se relacionava a artes gráficas naquela época. Trabalhava no Correio os dois expedientes e a noite na Faculdade até conseguir conciliar, para que todas aquelas ações pudessem representar o início da minha vida profissional.


A sorte


Sempre a meu favor, o Ari Cunha com seu incentivo fez com que, além de favorecer durante todo o curso da faculdade com uma bolsa de estudos, abrissem as portas o Senado Federal para este pequeno visionário. Fui recebido na Gráfica do Senado Federal na melhor condição: perguntaram-me qual o departamento queria desenvolver. Resolvido e determinado na atividade das artes gráficas, juntamente com o jornalismo naquela imensa escola gráfica, ingressei pela área industrial. Tive a oportunidade de reconhecer, como no Correio Braziliense, as mais modernas máquinas da indústria gráfica.
Trabalhei em quase todos os setores da gráfica do Senado Federal, sempre me especializando e adquirindo novos conhecimentos, até que fui ser instrutor de artes gráficas na Escola de Artes Gráficas do Senado Federal, juntamente com o Marcelino Viana, José Hermann Monteiro e outros colegas servidores. Tive o privilégio de trabalhar com Carlos Juliano Torres Pastorino (o do livrinho Minutos de Sabedoria), o qual era diretor da nossa escola, (um convênio do MEC com outro órgão do governo para profissionalização de jovens) com quem pude conviver com ele, dia-a-dia, vendo todos os seus ensinamentos. Na Gráfica do Senado estive ao lado dos assessores e coordenadores analistas de Organização e Métodos do PRODASEN - Centro de Processamento de Dados do Senado Federal para que fosse providenciado o diagnóstico de necessidades de modernização da mesma. Assim foi possível iniciar os levantamentos de dados para futuros procedimentos de modernização e qualificação de pessoal. Depois de muitos trabalhos, a Gráfica do Senado Federal foi avaliada minuciosamente pelo PRODASEN, a fim de ser modernizada a atender o nível de solicitações dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário com o que existia de mais moderno no mundo gráfico computação.

QUARENTA E UM ANOS DEPOIS – BRASÍLIA


É estarrecedor vir e sentir a Capital Federal quarenta e um anos depois de inaugurada. Vi, em 1960, a grande festa de inauguração. Dez anos depois voltei ao DF – passei quase dez anos. Voltei ao Ceará, só vinte anos depois voltei à Brasília. Suntuosidade, patrimônio cultural da humanidade. Tudo feito e programado realmente para aquele dia. Foi o fiat luz à brasileira, no sentido da coragem e sabedoria pelo dimensionamento das artes. Que idéia! A partir dali todo mundo conheceu o novo e a nova face do belo no Brasil. Em nenhum lugar, quiçá do mundo, se experimentou mais, da noite para o dia, as saborosas dimensões do prazer de viver num ambiente perfeitamente preparado para os homens; tudo espetacularmente envolvido em prazer e bem estar, ambientes organizados para tudo que se imagina e se considera ser necessário. O povo aderiu atônito e ocorreu em massa. Surpreendeu-se, ficou extasiado, subiu aos céus e ficou instalado no berço esplêndido reacostumando-se a suntuosidade, a natureza, aos largos espaços, aos verdes agigantados, as casas simétricas e sem muros, as ruas largas, ao comércio próximo, as facilidades genéricas, a doce vida, ao ar puro das montanhas. Tudo ao sabor das projeções de Dom Bosco. E ele está lá, na sua igreja, eu vi, tantos anos depois, presenciando o dia-a-dia, sereno, brando, branco, suave e silencioso para a admiração e veneração de todos. Que beleza, a cidade modelo do Brasil, mesmo depois de quarenta e um anos. Vivas para sempre a jovem Brasília, e com ela, os idealizadores, os seus construtores, moradores, os seus sonhadores, os seus protetores e Juscelino Kubitscheck de Oliveira.

PUBLICADOS E NÃO
OPOSIÇÃO A FHC: ILUSIONISMO E FARSA


O governo FHC, com a implantação do sistema capitalista neoliberal social‑democrata, vem resistindo e destruindo a nação brasileira sem que ninguém se toque realmente. Induzidos pelo misticismo nos transformaram em súcubos da nação. Os três Poderes, a grande força da nação, também estão subjugados aos seus ditames. E agora fazemos esta pergunta: Onde está a oposição?
FHC quer emudecer a opinião pública, fornecendo dados fictícios ao Jornal do Brasil, quando diz que não há nenhuma oposição ao seu governo. Só isto já se constitui uma mentira que nos faz rir do estrião, antes mesmo da peça terminar. Não podemos esquecer que no primeiro ano do seu governo o badernaço, aliado a destruição, foi feito em cima da quebra de monopólios, e estremeceu a soberania nacional. Não tiveram consciência quando mexeram no petróleo, telecomunicações e cabotagem, para citar três casos.
A luz apaga e acende, firma-se no palco dos brasileiros, apaga e brinca de invasão – é o contraditório, o falso prazer da bruxaria. Tudo do governo não passa de projeto com falso jeito. Só visa aniquilar os nossos direitos. Seja pelo Congresso Nacional, por decretos ou medidas provisórias. Ele está sempre debruçado em cima do mapa das universidades, a ver suas inconstitucionalidades; parece até que a procurar riscos até as últimas instâncias, ou mesmo vendo até onde a mente humana não pode mais pensar. Ele deseja ir mais longe e mas ainda, não percebeu que tantas paralelas só causam desorganização e inconformismo. Vejamos simplesmente a Lei das Diretrizes e Bases da Educação – foi aprovada – e encontra‑se em vigência, apesar de termos construído outra com todos os sacrifícios, assistida democraticamente, inclusive com a participação de parlamentares cearenses. A Autonomia Universitária é mínima, as Reformas Administrativa e Previdenciária são do conhecimento de todos. Agora anuncia‑se que não se sabe nada a respeito do dinheiro arrecadado com o imposto sobre cheques que era para salvar a Saúde.
Vejamos o caso dos Hospitais Universitários, sempre ameaçados de fechar. Atualmente funcionando com irregularidades técnicas inadmissíveis, bem como a Maternidades Escola, Centros de Maternidade, quase com os dias contados.
Precisamos reforçar urgentemente essa oposição “relaxada” a olhos vistos, formada por partidos como o PT, PC do B, PDT, PSB, PSTU, e outros que se colocam diante dos companheiros com uma enorme superioridade, mas nada fazem com seus projetos como os CUT, MST, CMP, UNE, etc. a favor do movimento sindical. Preferem não reagir contra as escorchantes propostas do governo, da mesma forma que os do PSDB, PFL, PMDB, PPB, PTB e outros. Chega de ver a covardia e desonestidade. Eles preferem a escuridão e a luz fictícia. Amam a mística da negação e negam, negam, negam. O PRAZER DELES E A HONRA SÃO PELO MAL.
Exigimos que o PT e a CUT se retratem imediatamente, saiam do ocultismo em que vivem. Achamos que só incidir sobre situações pontualizadas é perda de tempo e nada se tira por lucro. Exige-se rompimento do silêncio e sua integral participação no movimento sindical de todos os trabalhadores brasileiros. Ser desonesto é um mal terrível.

EXPERTOS OU TROUXAS


Está na hora da pá de cal em cima de pretensiosos candidatos. Devia ter um vestibular para se admitir qualquer candidatura. Não têm vergonha e, muito menos caráter, aqueles que, sem a mínima condição se inscrevem e adquirem o aval para candidatar‑se. Se lhes perguntam o que o povo pode esperar, dizem: defendo e defenderei a todos. Pode ser, mas deviam, antes de tudo, passar pelo crivo da autoridade ministerial que perguntaria para cada um deles: Quer trabalhar? Então venha cá meu amigo(a), faça essa prova aqui e apresente aí o seu grau de instrução: títulos, experiência profissional etc. – Ah, eu estudei na minha terra. Estudou o quê? Quais os cursos? Não tem nenhum comprovante ou registro? Então, você pode comprar um carrinho de fazer pipoca para vender que é muito melhor. Você não tem condição de ser parlamentar, de ser um estrategista racional, um arquiteto da fala, um defensor público de escola. Só vai fazer confusão em plenário, arranjar inimigos e faturar alto. Não é justo, você está se candidatando para servir bem a seu povo, precisa ter lastro, desmembrar com suas próprias palavras o seu discurso, ter eloqüência, convencer pela linguagem sem atenuantes ou então você quer ser marxista esotérico ritualistico.
O que a mim me parece é que quem devia punir, faz que não vê e diz que não é vigia de ninguém. Quem ganhar, faz sucesso e ri da cara de quem o elegeu. Esses princípios não podem trabalhar em pé de igualdade com a verdade. A começar pela própria imagem do candidato: surgem nos meios de divulgação sem nenhuma postura lógica sem nenhuma orientação. Quando começam a falar, saem os disparates, parecem uma torrente num contra‑fluxo. Primeiro, vem a mentira recheada sem nenhuma tabulação. Falam errado, escrevem barbaridades, e, o que é pior, pensam errado. Não possuem nenhuma desenvoltura. E aí é que o grave: são perseverantes em projetos sem a necessária qualidade e estrutura e, desejam contaminar todos os aderentes, ávidos e esperançosos por uma fatia do bolo. Preparam planos infantis e o povo só perde tempo pelo despreparo, desqualificação e incapacidade dessa gente.
É justamente nisso que o governo monta seu esquema, reacendendo constantemente a chama de uma “esperança falsa” para enganar “trouxas”. Sabendo que esses pobre de cultura atraem o povo desorientado, porque nada se exige deles. Nada se faz porque não é do interesse do governo explicitar muito, ensinar, dirigir, educar, orientar, pegar na mão, pois seu lema é deixar correr e passar, porque, enfim, tudo se resolve por si só, isto é, com a ajuda miraculosa, claro, de uns poucos coitados que cuidam as massas, desejam a responsabilidade delas, sofrem por elas e até dão a sua própria vida por elas.
A única coisa que eles conhecem mesmo e garantem, esses tais candidatos, é a sua própria fama que têm de entortadores de cabeça de bode no sertão nordestino. Você que se diz correto e é um cidadão(ã) esclarecido(a), tem a obrigação, portanto, de saber escolher o seu candidato, votar certo na hora de sufragar o voto, e, exigir de si mesmo o permanente contato com esse mesmo parlamentar, informe-se do seu endereço e cobre dele permanentemente.


VENDE QUEM ANUNCIA E COMPRA QUEM RECONHECE


A melhor razão na atualidade para uma empresa reingressar na atmosfera progressista, certamente é a informação escrita. Faça primeiro com que todos conheçam o que você produz, porque só compra quem conhece.
Carecemos de conhecimentos em espécie e estamos em plena era ativa das comunicações. Muitos de nós, infelizmente, não reconhecemos o que chamamos de: a necessidade do direcionamento das nossas propensões de aquisição, e, menos ainda, a justificação da informação direcionada. “Verba volant, scripta manent”. As palavras voam e os escritos permanecem.
O mundo gira em torno da comunicabilidade dos fatos, das pessoas, negócios etc. Precisamos de algo que nos mova no sentido reflexivo, no momento exato de uma decisão de compra, até no pior instante, para que, sob análise e refazimento de ações, possamos melhor finalizar ou dirigir as nossas questões. Ao oferecer vendas, questiona‑se primeiro o que vender, quem vender, quando usá‑lo, adquiri‑lo ou comprá‑lo e, de que maneira, em que lugar, e por qual motivo investir no objeto ação. Precisamos de conhecimentos detalhados para poder nos deter e aproximar daquilo que está sendo exposto; é a lógica das indicações, dos sinais, caminhos, e, principalmente, da linguagem adequada à mostrar o que colocamos em mira. Seja quem for, ao desejar adquirir alguma coisa com sucesso, primeiro especula, indaga, compara, conjectura, analisa e até pergunta a outras pessoas se deve ou não fechar negócio, mesmo por que, às vezes, tudo é um relâmpago.
Uma adequação poderosa a ser incrementada entre escritores e empreendedores, tendo em vista que grandes conhecimentos científicos podem ser direcionados para a indústria, em forma de livro, revista, folheto, folder, catálogo, mapa etc. Os custos de produção e editoração são pormenorizados e raramente pode-se arcar com todas as responsabilidades. Também carecemos de patrocinadores para custear parte das despesas de confecção de livros de toda espécie. Porque então não associar a lógica com a intenção de unir o útil e o necessário? Se sabemos que existem cientistas que escrevem livros os mais diversificados possíveis em todas as áreas e deixam transparecer amplos conhecimentos de causas e efeitos em todos os ramos da ciência e do conhecimento humano, por que não direcionar este turbilhão de informações à grande massa? Devemos e podemos ampliar este quadro associando cada assunto às empresas correlatas, interessadas, e que aceitem investir, em parte, convenientemente, nessas edições. Assim, se uma empresa domina a área dos recursos hídricos, por exemplo, vendendo os mais diferentes utensílios e equipamentos de irrigação, implementos agrícolas, sementes, tudo o que se destina ao campo, ou uma empresa que cuide de análises químicas e equivalentes, poderão criar, antecipadamente, todo um ambiente propício, fora da empresa, explicitando em livros, os pormenores e influência dos custos da água no mundo atual, efeitos, mananciais existentes explorados e inexplorados, plantações e irrigação (tudo em custos mínimos), dimensões de reservatórios, atualidades, transposições e costumes etc., bem como qualidade, cuidados, análises, usos em reservatórios, sujeições, etc., tudo amplamente ilustrado, e por conseqüência, mais atraente e estimulante para o interessado.
Como exemplo, temos o seguinte: Quem escreve livros com estudos sobre a flora nordestina e efeitos diversos dos remédios caseiros? O micro e macromarketing? Que coisa mais natural, a poder de palavras, um cardiologista explicitar fatos comuns e corriqueiros? Seria o extrato da soma de seus conhecimentos, mesmo que fossem generalidades a sua comunidade, oferecendo‑lhes dicas como de um novo vademecum (indicados provavelmente para Centros de Pesquisas Cardiológicas, Hospitais, Universidades, Laboratórios etc.). Quantas facilidades em escrever minuciosamente têm aqueles professores investigadores, que doam e somam às suas vidas, o saber científico da sua própria disciplina ao seu trabalho na economia de negócios, na arquitetura, estatística, computação, biblioteconomia, educação física etc. Temos mestres escritores em todas as áreas, bem com empreendedores em todos os campos. Assim, o agribusiness, por exemplo, gerenciaria livros ou revistas sobre a fruticultura, poupa de frutas, enlatados, valor nutritivo das mesmas, a sua importância na alimentação etc. A distribuir conjuntamente nas feiras nacionais. O que significa tudo isto? A associação ampla do saber e conhecer, em todo o espectro de conjugações à maleabilidade de vender aquilo que a indústria entende e faz verdadeiramente. Desta feita, livros, livretos, folders, encartes, mapas, catálogos, podem levar permanentemente às principais indicações nas comunidades (dicas bem planejadas) com naturalidade e perfeição, através da informação registrada, análise de documentos e a organização e seleção de tudo que desejamos, just in time, juntamente com a implementação e associação da área editorialista terceirizada. Por que não aproximar o ovo de consumo à galinha de produção através da informação científica? É justo e necessário que, antes de lançar o seu produto, se crie todo um processo de registro escrito, ambientalmente, nos mais diferentes lugares para seus clientes. Deixe que se diga tudo sobre o seu produto, de forma criteriosa, diversificada e ampla nos padrões internacionais da ISO‑ABNT.
As empresas poderiam colaborar no patrocínio da confecção dos mais diferentes tipos de livros, revistas, folhetos etc., em sua área de especialidade, criando passo a passo ambientes de informação, preparando o consumidor e ensinando‑o a conhecer as mais diferentes nuances do produto de sua indústria. Se eu fabrico e distribuo, por exemplo, refeições diárias, é bom que se crie fora da empresa todo um meio próprio com a explicitude da comunicação. Assim mesmo com roupas, móveis, carros (bens móveis) qualquer produto; o importante é dar ciência a todos, de uma maneira inteligente, ética e científica, do vasto programa da empresa, juntamente com todos os parâmetros de fabricação dos seus produtos, a performance adquirida, qualidade e, os níveis de fabricação e quantidade, desde o princípio de suas ações dentro da empresa, o melhor e menor significado registrado nos mais diferentes e distantes lugares onde o produto poderá se estabelecer, até as indicações ou adequação ao seu negócio.
Esta forma de incremento da produção, aliada ao conhecimento científico, traduzido em linhas direcionais, dará um aceno, certamente com imediatas indicações a quem quer que seja, pela visualização ampla, garantia e registro antecipado, de todas as facilidades que são ofertadas na hora da compra de qualquer produto.

A SERVIÇO DA PAZ (Última Visita do Papa)


É bem vista sim, a presença de um dos maiores estadistas do mundo em nosso país, brevemente. Assim, pelo menos com o que há de vir, assistiremos, queiramos ou não, pela primeira vez, o processo de frenagem da impetuosidade, da desobediência e da insensatez do presidente monstro, (como é chamado o FHC) cujos predicados não combinam nem de perto com os do Papa João Paulo II. O freio da luz verdadeira o fará repensar e, porque não dizer, resolver muitos encaminhamentos desordenados que são vistos pela grande maioria dos brasileiros.
É justamente nesse momento, que as autoridades da Igreja Católica podem mostrar a decisão lógica e racional, direcionando, em conformidade com os estamentos o que virá acontecer proximamente. Só para citar um exemplo: Há cinqüenta anos a Igreja discute a reforma agrária legalmente – é preciso mais coragem – e menos desassossêgo.
Falta a moldura, o ajuste, o burilamento. O encaixe das arbitrariedades – benditas decisões equilibradas – para amenizar, senão, dar encaminhamento na vida de todos nós. Falta acabar com a duplicidade e o paralelismo, a inventividade macabra, sorrateira, que soçobra depois da meia noite com o tremular dos panos. É por isso, que já enveredamos pelo ilusio da servidão voluntária, onde encontramos o pânico e o estupor, até cairmos em posição catatônica. Quase envergonhados com tantas providências, confundidos, aceitamos como nossa mesma a verdadeira culpa por atos cometidos cheios de arbitrariedades, já que tecnicamente é quase impossível provar de quem é a culpa desse emaranhado turbulento badernaço.
Há quem possa dominar todos esses estranhos acontecimentos e também diminuir essas técnicas horríveis de manipulação do ser humano, que hoje são implantadas largamente por alguns setores. É aí onde entra a missão de milhões e milhões de brasileiros católicos.
Chega de excessos de bondade e concomitantes arroubos explosivos. Não precisa mostrar mais a falida Instituição. O papa já sabe.


LIVROS CIENTÍFICOS: QUE FAZER COM ELES?


Vem o professor universitário com o seu devir que o consolida e tudo o mais pelo qual lutou a vida inteira. Se escritor, manifesta‑se. É o cientista que guarda os seus alfarrábios e agora, ao revivê‑los e adequá‑los, por editar o seu livro, espera habitar realmente e constituir com verdadeira família de argumentos e exemplificações convincentes, tudo aquilo que viveu e aprendeu durante a sua vida. Vale às suas exemplificações pela sua vivência científica, o estudo, centenas de aulas e contatos os mais diferenciados. Quantas solicitações, retratações, reconhecimentos de alunos e professores.
Antes de tudo, a peregrinação e a dispensa aos outros. Ele deseja editar o seu livro. Vai, contudo, ainda, recordar muitos trechos, sofrer gélidos passos e reconhecer estâncias nocivas e, até, ver e ouvir o indesculpável, bem como acordar com o último desejo do seu editor, pois este, que será o responsável pela sua obra de agora em diante, o carregará nas suas mãos, oferecerá lucubrações e, também, de resto o puxará sobre pedras, na tentativa de fazer o melhor. Que bom, é uma pena ou nem uma coisa e outra. Como expressar‑se sobre a confecção de um livro cheio de detalhes técnicos se dizemos o que traz os escritos de Lichtemberg, relembrados por Oto Maria Carpeaux, em Cinza do Purgatório: “Não há mercadoria mais esquisita do que os livros: são impressos por quem não os compreende; são vendidos por quem não os compreende também; são lidos e criticados por quem não os compreende melhor; talvez sejam escritos por quem não compreende nada”.
Citações relevadas e dificuldades vencidas, vincula‑se a fala submissa de cada escritor científico às razões pelas quais ele está ali, mostrando, exemplificando, contando cientificamente os caminhos pelos quais trilhou e desenvolveu os seus artefatos didáticos. Só ele é capaz de fazer isso tão bem, e ainda doar‑se de corpo e alma para ver concretizada a realização de sua vida. É preciso ser compreendido, entretanto, basicamente, pelo valor maior de cada obra científica. Associado o fato à questão, ele está ali debruçado, pronto a dizer e anunciar as suas descobertas, pronto para transformar tudo em benefícios à toda gente. Nada mais fácil e lógico ouvir, sentir, para depois inquirir o próprio conteúdo da mensagem de cada obra com as seguintes perguntas: A quem se destina e a quantos ajudará? A muitos, certamente.
Trata da questão do urbanismo? Nada mais sensato ouvir aqueles escritores científicos que escrevem sobre estrutura das cidades, paisagismo, arquitetura etc. Se discutida a questão social, vamos contatar aqueles que falam sobre a mesma; remédios caseiros? Os que defendem estudos das plantas medicinais etc. Se o assunto é a linguagem vernacular, estrutura poética, vamos nos associar a esse especialista e indagar de que maneira vamos atingir as comunidades para ver o despertar do que elas mais precisam. Será que existe um escritor que fale sobre doenças de plantas? Como tratá‑las? Existe. Então vamos entrevistar esse autor, muito mais conversar com ele para que seja dito. Ele, o autor, é que deverá ser ouvido, analisado e auscultado, uma vez que o próprio é quem pode responder o quê é a sua obra, como pode colher dados de sua obra, onde, quando, por quê e para quê; quais os caminhos mais fáceis a serem seguidos, os objetivos outros a serem encontrados, e, quais os maiores beneficiários. Ele, juntamente com o orientador é quem deve demarcar caminhos de ajuda às comunidades que necessitam de orientações, indicações e delineamentos para uma progressão permanente.
Essa a oxigenação possível e necessária, de forma simples, para a integração dos menos favorecidos. Vamos publicar mais livros. Só é preciso ir buscar dentro das comunidades e ver o que mais desejam, para que seja refletido e discutido com as Universidades, único local com a garantia absoluta da informação científica; manancial permanente de valores ao inteiro dispor e, certamente, com o potencial de ser a única fonte científica abrangente de todos os ramos da ciência, e, ainda, detentora de dezenas de títulos práticos, imediata e infinitamente úteis para milhões e milhões de criaturas. Vamos viver mais o Universal pelo Regional. Esse o dístico Martins Filho, o fundador e maior empreendedor de todos os tempos na UFC – falta segui-lo à risca.

PRECISAMOS DO PAPA NO BRASIL


A tribulação por que passamos deve ser ainda mais reconhecida pela Igreja Católica. Falta severidade e explicitude, além do associativismo junto da meditação, do empenho, da oficina do trabalho e do fazer dedicados. Há cinqüenta anos a igreja exerce atividades críticas contra o Governo Federal, mas eles ainda continuam vesgos com os projetos de reforma. Longe do poder, meio desvitalizada, a igreja concentra seus esforços só no pobre e no menos aquinhoado, quando todos devem ser englobados nessa trajetória humana e fraterna. Precisamos sim, exercitar as técnicas ergológicas e dar mais valor a participação do ser hu­mano a formar parcerias de alto nível, que é o que interessa, por beneficiá‑lo indistintamente. Não precisamos complexizar a aldeia, precisamos da união de todos da aldeia, mas sem segredos e ocultismos, diria aí, um desses estudiosos fascinados pela paz no mundo.
Enquanto nos organizamos, os que tentam emplacar suas grandezas adivinhatórias e místicas sobre nós, os a­dormecidos, quiçá, embalsamados, auscultam o medievalismo pleno e no auge dessa liberalidade miasmática organizada só projetam o fantástico o germe da contradição – os enganos.
Que terão de fazer os doutores e os mestres proximamente? Os sociólogos, os jornalistas, os médicos, os padres? etc. Estes, mais ligados ao social, permanecerão no estilo essedário com medo da morte? Apoucados, não podem adorar um rei fictício ou transformarem-no em tótem, só por burrice ou ingenuidade. Ou será melhor sorrir, já que não é mister sorrir antes da peça terminar, como o Rei Ubu, estrião imaginário da literatura france­sa – citado em artigo de jornal pelos sociólogos – enquanto isto, no sul do País um cacique de uma tribo indígena vira assunto nacional traduzindo mais uma comédia de costumes; candidata‑se a prefeito e ganha a eleição, em seguida manda prender o seu adversário sob pretexto de que, acorrentando‑o a um poste, deixa de existir adversário na cidade. Falta educação e religião.

SACERDOS ALTER CHRISTUS


Hoje, lembrei-me do antigo professor que não vejo há anos e guardo na lembrança toda a composição dos seus gestos, sua personalidade, seu caráter. Dos meus amigos, posso dizer com segurança, é quem mais se parece fica com o Mestre.
Foram-se os anos em que ouvia seus conselhos; frases significativas. Valeu os elementos primordiais que contribuíram para a minha formação. Ficaram suas explicações simples e curtas, ditas em suas reuniões com nossos colegas e, alguns riscos das aulas de linguagem vernacular no velho Liceu do Ceará. As suas frases bem formadas, quem as percebeu a interpretou nas estrelinhas, pode consumir bens infinitos que, para mim, durarão a vida inteira. Às vezes nos ensinava fatos paralelos a pequena distância do que falava, só para ilustrar e melhor dizer o que estava dissertando. E voltava ao assunto explicando o por que da língua portuguesa; as suas causas.
Um dia, fiquei surpreso quando, para ilustrar uma de suas explicações, em certo assunto me perguntou, referindo-se a valorização da vida e a intensidade com que devíamos enfrentar os obstáculos: Qual o maior presente que ganhamos em nossas vidas? Com os anos pouco passados ainda refleti e, na mesma ocasião, vendo que dificilmente responderia corretamente, logo falou de Deus e mostrou-me que o maior presente só poderia ser a nossa existência; o nascer e explicava, é a maior obra de Deus, e estar com Deus é o maior de todos os privilégios. Deus do dia-a-dia, da conversão, da dedicação, da humildade, da simplicidade. Esse é o verdadeiro Deus, sem pactos e sem segredos. Ele ainda completava sorrindo: “entenda quem puder e se quiser”; “longe da corrida do deusdinheiro dos campeonatos, das competições e falsas impressões”, só para poder mostrar ironicamente a sua sorte.

Luz dos Desonestos ou Golpe?


A partir de agora não podemos mais fazer nenhuma previsão do que irá acontecer na política do País. Que coisa mais desumana, para dizer melhor sobre a ação de pessoas desonestas, os políticos juramentados, dizerem que trabalham pelo povo quando amealham para si à vista de todos. Eles hipnotizam a todos com promessas um pouco superior a que se tem direito e conseguem, através dessa colocação inteligente, prender a atenção de todos. O ouvinte, em razão da sensação de ganho, subjuga-se e flexiona-se sem nenhuma conotação de indagação ou de espanto. No instante em que nos envolvemos, assistindo e ouvindo os crápulas, estamos surpresamente, ainda, na esperança de ouvir algo melhor que nos conduza a um caminho promissor. Isso nos leva quase inconscientemente a aceitar e continuar ouvindo, entendendo o que se diz e gravar no subconsciente tudo o que está sendo dito pelo político. Nesse momento, abrimos um canal de intercomunicação e permitimos que o interlocutor nos transmita, à nossa mente, imediatamente o que bem deseja, e, seguramente tudo que ele está dizendo ou transmitindo é algo contra o que estamos ouvindo.
Assim se processa a hipnotização e o começo do domínio sobre os outros, que, até com ar de riso, por incrível que pareça, favorece tudo o que eles desejam. Daí pra diante não se tem mais nenhum controle sobre o que irá acontecer ou poderá vir acontecer. Assim, é o caos em que vivemos entre os desonestos que juram ser os mais sinceros, e só trabalham em benefício do povo.


SEGREDOS DA MODERNIDADE


Não é mais transgressão disciplinar grave? Indagariam algumas pessoas diante do novo projeto brasileiro. Parece até que eles, os conselheiros da Casa Grande também percebem, isto é, que não é a educação o melhor caminho para o povo. Essa é a base, o trampolim para o conhecimento e consolidação dos projetos humanos. Dizem eles que é, mostram que não é e faz-se dois caminhos aparentes mas contraditórios. É uma espécie de orgia de liberalização e um dos fatores que regulam a espera de tudo aquilo que jamais virá.
“É do conjunto de áreas específicas de ensino superior que se fornecem o diagnóstico e a ação necessária ao reerguer nacional”. Somente essa afirmação é suficiente para conjecturar com apreensão a questão da educação brasileira, mas os ouvidos gregos não recebem o clamor. É o ritual da insensatez, poder da discórdia, prazer do nada, a permanente briga do poder. Acorda, povo brasileiro, porque é preciso! É de manhã, éticos “caipiras vagabundos”! Como diria o ex-presidente. Até nós, também, bem que deveríamos gritar. Assim, muitos iriam acordar rindo com o marketing político para a realidade que se aproxima. Rasguem a mordaça.
Na verdade, o caos eleito tem a sua dignidade personalizada e possui a mão fechada, mas cuidado, não dá garantias para nada, nem com mão espalmada. Jamais eles pedem para nos irmanar nestas causas; mas, construído esse muro de meias, nunca deixam de tocar com prazer os ganzás, e todos os pandeiros, até virem nesse amálgama o resultado de todas as suas ações. É uma estranha satisfação pelo simbolismo. Querem sempre nos considerar e nos acenam com tantas propostas. Em seguida, nos tratam com enxurro humano em troca de pregos e dentes nas eleições; propostas surpresas, ofertas bombásticas; às vezes tudo, às vezes nada. É a concepção niilista. Uma vocação para a dor ou para às indisponibilidades; é a busca incessante da devitrificação. Precisamos reconhecer pessoas maleáveis que falem à luz do sol, explicitamente; que conduzam e orientem sem místicas estratégias e segredos inconfessáveis. Mais parecem eles, os adivinhos, afinados com os seus abantesmas paradigmáticos.
Dispensar a sistemática diplomática nacional e o gregarismo técnico pode ser ilegal e denota despreparo dos conselheiros mistificados. Que prumo desalinhado! Só serve para desnortear o povo e isso é péssimo. Eles, os comandos, acham que está ótimo, que o povo de tudo gosta; por isso pedem todo dia que essa gente compreenda, que ajude mais e mais. Desde daqueles dias do “apertem os cintos”, ou “quem não tiver gostando que dê um tiro no coco”. Hoje estamos quase mortos, mas cremos; eles não, continuam agnósticos. É um mal que jamais eles compreenderão. Não desejam nada com as falas formadoras de opinião. Pelo contrário, detestam o gregarismo, o ensino e a distribuição.
Só lhes interessa a expansão das artes, a exuberância, o êxtase, o gozo, as protuberâncias, a mística da satisfação pessoal. É possível isso? Sim, com todos os direitos reservados para eles, muito embora vivam distantes da verdadeira realidade e da sabedoria universal. Eles são assurbanipalescos, visionários e imprevidentes. Detestam a simplicidade, a concórdia, o entendimento. Vale o constante jogo duplo deles, tudo bem; sempre com interesse em especulações fantásticas, abusando da ocultação-revelação, permanentemente envolvendo a secretude, mostrando a posteriori tudo aquilo que pode dar certo. É quase como um conjunto de exercícios de sacrifício de um iogue que, em situações quase impraticáveis, conserva todas as suas prováveis boas reações em seu próprio benefício e ainda invoca pretensos resultados. É o parapragmatismo que o Governo doa à Nação. Eles fazem muito mais de seus desejos para nos subjulgar cada vez mais, e, a malgrado das lendas, nomeiam-se candidatos da semi-servidão para a servidão plena. Não desejam para as pessoas o conhecimento, o estudo e a educação. E, por isso mesmo, temos de acordar imediatamente, regenerar as nossas forças, nos revitalizarmos, para dar uma resposta contundente na próxima contagem de votos.
Assim tem sido a política da permissividade, um ritual com ocultação e disfarce de autoria que vê e diz que não vê, faz e diz como não se deve fazer para poder fazer depois o que disse que não se devia fazer. É justamente isso o que estamos vendo, o contrário da educação nas escolas. A implantação da lei do badernaço, o rocambolesco conjunto de segredos da modernidade. E, pelo jeito, ainda vem aí, “o que a mente humana não é capaz de imaginar”.


FIM DE SEMANA NO SÍTIO (RECANTO CUNHA LIMA)


Abro os olhos, fico atento e, vagarosamente pressinto a presença de tudo que está em minha volta. É o final da madrugada! Lembro a gratidão, a respiração, o aroma da manhã, o vento ausente, o frio, o chão, o tilintar do grilo. Vejo e sinto as portas e janelas, a pequena abertura nas telhas (meu relógio de estimação), a coragem de levantar. Agradeço a Deus porque estive dormindo no céu, a noite inteira, e agora, por ter acordado no Recanto Cunha Lima.
Um impulso e fico em pé, calçada a chinela vou abrir a porta. O silêncio é como a calmaria de um rio. Olho distante e vejo o céu recebendo as bênçãos dos primeiros raios do sol, o adeus ao ambiente gris; entretempo de despedida dos tilintares, dos pios das matas e quachares noturnos. Quantas mensagens são oferecidas pela natureza; nós não a compreendemos mais porque não lhes damos ouvidos. O pequenino cachorro ainda late distante, um burro passa ligeiro no portão do sítio; (vi-o pela fresta do portão e pressinto‑o pela batida das tábuas da cangalha mal arrumada). Segue atrás o dono (seu Manoel) preocupado com à longa distância sem saber se hoje é dia bom para vender ovos, batatas e macaxeira; sua única produção da meia de onde mora. Tudo ainda é silêncio e calmaria. Aqui ainda percebo o soprar dos últimos perfumes da noite e o burburinho das vozes madrugadoras; pode ser mais gente na estrada; os últimos carregos de rapadura no engenho do Seu Geraldo, as nativas contando as suas vitórias e peripéssias da noite dançante, a romaria para a igreja nova do culto do evangélicos da Tapera, o ronco de um velho e lento chevrolet carregando tijolos.
A nossa casa está bem ocupada. Todos ainda aproveitam o sono e só se levantam quando sentirem o cheiro do café e da tapioca. Meu pai e minha mãe estão em seu quarto dormindo. A irmã e sobrinhos no outro. É frio. Os filhos, a filha e a mulher ainda estão também em sono profundo. Melhor dizendo, só irão levantar quando, no bater dos pires, as xícaras estiverem em uso. O vento leve ainda sopra e com ele vem o filho da empregada anunciando: “a mãe mandou dizê que vem já”, e ao passar das seis horas da manhã, tudo vira “começar de novo” e a ventania aumenta tomando conta das copas das mangueiras e cajueiros, num farfalhar inigualável, diferente do rés do chão, onde as galinhas correm cacarejando no terreiro.
É o meu caminhar até a cacimba para ligar o motor, no fim do alpendre da casa. Vê‑se as cadeiras, os bancos, as redes de tucum armadas, um chicote pendurado, a moenda, arreios não sei de quem, o veludo com as mãos sob o queixo, (cachorro da casa deitado debaixo do cajueiro) duas latas de querosene e o pau do ombro, (objeto de carregar água); o fogão de lenha e a churrasqueira ainda fumaçando das cinzas, a lenha seca de sabiá para acender o fogo de hoje. O mais sofisticado daqui é que tudo é in natura. Não há nada para apressar, nenhuma idéia inusitada. Tudo já foi criado, tudo está aqui no nosso paraíso. Estamos no paraíso, o Recanto Cunha Lima, nosso sítio, um cantinho do céu.
Olho de novo para os coqueiros plantados no limite da cerca, os cajueiros, as mangueiras, o limoeiro, a areia branca, a praçinha “bidório’ entre três cajueiros e uma mangueira, (tudo aqui foi feito com a força de um pai, o nosso pai), o banco de madeira, a mesa baixa e comprida de cimento e azulejos (um dia estava ao lado do meu pai e ele olhou para esta mesa pela última vez dizendo: este foi o último trabalho que fiz; e bateu forte com sua bengala naquela mesa de cimento e ferro), o anexo bem ao lado, a base mística da pirâmide. Vejo a terra branca, as pedras e os grãos de areia, veio tudo e gravo cada vez mais, como se fosse, conferindo cada pedaço daquele chão. A mangueira tomy atkins, os boa noites, o limoeiro, tudo em pleno florir.
Tudo está como antes e ainda é silêncio, apenas com prenúncios de um novíssimo dia. Aqui é assim, e assim é o sítio cheio de todas as cores. A paz como nunca se viu, a serenidade, o verde e amarelo, o azul e o branco. Este é o nosso quintal, aqui é o nosso Brasil, o nosso querido Recanto Cunha Lima.
É hora do café e quase todos estão tomando o lanche matinal. Os menores já brincam na alva areia, trazem seus objetos, escolhem o sol, a sombra, a copa das árvores. Os adultos se sentam nas brancas cadeiras, no parapeito vermelho, e passam a falar coisas que fizeram, e as que ainda podem ser feitas. Sentem‑se à vontade, riem‑se, só se lembram que estão felizes e que ainda há mais que um dia inteiro para relaxar, pensar, sorrir, se balançarem nas redes. Não pensam quase no que dizem. Os assuntos são os que vão surgindo. Tudo chama atenção: a formiga no chão, a borboleta amarela, uma rajada de vento, um caju que despencou da árvore, o cheiro de mato, o mamão maduro no pé, a piscina está quase cheia. E como se não bastasse, acaba de chegar ao recinto o seu Gonzaga, o caseiro irreverente que sempre esteve presente. E mais tarde vem mais visitante. Todos querem estar aqui fim de semana.
O peso da responsabilidade daqueles que vivem na cidade é sempre o mesmo para aqueles que vão curtir o sertão. Por isso de repente, sempre salta um pro lado de lá, com uma vassoura na mão e um voluntário(a) do lado, outro com a idéia do almoço e alguém puxando as cadeiras. A empregada, que é da região, pensa e cogita: “nunca vi algo mais estranho; num lampejar, sem que ninguém deixe transparecer, vontadosas criaturas aparecem saltitantes para reduzir as minhas tarefas, que família ideal!” bem que ela podia pensar assim.
O sol já a pino diz que hoje vai brilhar; cerveja gelada toma conta de gelo. Vem aí o tira-gosto e um bom churrasco. Preparar a churrasqueira faz muito bem e visitante que vem. Cuidar não faz mal a ninguém. E vamos aos preparativos para uma doce jornada. Chegam os amigos e a festa tem início. Surge um caldinho, coentro e pimenta de cheiro. Muita conversa, boa música, aqui todo mundo é de festa. E grita um lá da sala, churrasqueiro?! Nesta altura o almoço até já vai ser servido; tem sempre um que já está pensando em pegar uma rede no alpendre.
O movimento é constante – Aqui não se vê hora passar – o banho de ducha ou piscina é uma constante – e a estas alturas do dia com tanta animação familiar, não se percebe o passar das horas. Como aquelas tardes nunca mais. A tarde traz o silêncio da noite – a brisa é leve, os assuntos amenos. O café com tapioca vai sair. A televisão chama a todos para os seus pés. A mesa e os sanduíches, os bolos, as tapiocas e os caldos são do agrado geral. Começam também os preparativos para a noite (podemos ir ao restaurante do Zé Almir, uma festinha num sítio próximo ou visitar algum amigo), uns vão na frente, outros depois, outros mais tarde ainda. Assim, quem vai ficar pra dormir cedo fecha fechando os olhos vagarosamente. Você está no Recanto Cunha Lima.


RISO E ADIVINHAÇÃO – germes da Contradição


O vírus da intolerância, da indolência, do marasmo e da rotina, aqueles que se estabeleceram durante anos em nosso meio, contaminando gerações, quase não encontram mais os rumos da sobrevivência. É a face sombria e nefasta da escuridão. E o que é escuridão? É o campo fértil da lascidão, paraíso dos desafortunados.
Não se pode pensar no novo e no moderno desse jeito porque as conseqüências dessas mudanças alteram o ritmo das pessoas. Se são preferíveis as adivinhações, as indicações pictóricas das conjecturas, ao planejamento – reconheçamos – não sei o que será da metodização e científico.
Assim, neste Brasil em que vivemos, basta isso para nos deixar ser preteridos humildemente. Sem métodos e sem lutas, sem tradições e sempre envolvidos com o acaso. Somos capazes de querer desviar o curso dos rios, mas não sabemos como evitar a quase destruição da maior preciosidade que tem o ser humano; a moral e a dignidade – bens inestimáveis – que são destruídos, massacrados.
O governo FHC alimenta de qualquer maneira essa doençaria – pouca saúde – que contaminou o País durante anos seguidos mas os seus diagnósticos traduzem alucinações ao invés de lucidez. Somos pacientes e aceitamos a nossa doença, mas não nos convencemos daquilo que nos aflige; que fazer diante dessas tentativas difíceis para combater o mal se a doença instalada não dá sinais de regressão? Vamos para o Congresso ouvir os pares. Mais catástrofes; cada um tem compromissos com os amigos de viagem e cuida só dos seus interesses. O povo que morra de vez – deixem-me em paz – quase dizem os deputados, bem alto, para todo mundo ouvir. É por isso que ganharam o presente grego dentro do próprio congresso; aquelas faixas ridículas: Congresso de picaretas. e não se tocam.
Na escalada do sucesso não é o dinheiro ou pelo dinheiro porque brilham os olhos do presidente. Há introspecção e digressão em sua sabedoria que consiste na antítese de vê a ascendência insatisfatória, quase em detrimento dos outros. Penso que a modernização o ajudou a dar o salto; maior que a necessidade, insuficiente a ver os semelhantes a lutarem entre o céu e a terra. Sem se importar em virar estátua de sal, a cada aparição sua o riso melhor se faz. A moral do brasileiro é tocada e o silêncio é uma ousadia depreciativa. Até quando haveremos de interrogar? Será que o nosso presidente virou bicho de sangue frio, como a rã, quem canta no fundo de um poço e não vê a quantidade de água salgada que existe no mar? Os seus métodos administrativos não coincidem e os seus conselheiros? Será que ele considera “que o soldado é bom não saber porque ele não revela nem sob tortura?” É quase certo que ele sabe dessas luzes e que esse lúmem pertence aos aconselhamentos ocultos.
Nada pára de crescer e tudo permanece nesse conjunto de atitudes complexas com gosto horrível, que viram linguagens rebuscadas. Não há condicionamentos, não há interesse pela metodização, pela sistemática ergológica. Não era essa a intenção verdadeira do presidente, com certeza e, se insistem eles nos aconselhamentos dessa direção, é porque não desejam que o povo reflita para descansar e continuar à sua jornada. O lado lírico da comunicação vê isso todo dia, reconhece as honras e méritos, mas essa base vê primeiro a trajetória da distribuição eqüitativa, se é que isso ainda pode acontecer. O que estamos vendo é que a respiração do povo brasileiro precisa voltar ao normal, juntamente com seus espíritos que já se apegam com o último esforço de estâmina. Que pensem mais os cordos conselheiros ocultos, não só o presidente. Diria o Appeles em sua máxima ao presidente da República: Ne sutor ultra crepidam. E Catão sensor se divertiria hoje dizendo: Os àlgures, deixem de se olhar, se querem parar de rir.


CRISTIANISMO, VIVO


Há paciência, sim, vamos esperar pelo menos alguns meses para ver se o presidente FHC e seus encarnados esclarecem as dúvidas do povo brasileiro. Antes que o mínimo indispensável social à ordem pública – entre em luta aguerrida. Ele mentiu, (negar é a sua prática) mas vamos continuar delineando nossos caminhos, mesmo que tenhamos de refazer as trilhas. Os adeptos do futurismo, cheios de razão e convictos da desorganização nacional não fornecem respostas, trabalham pelo Brasil moderno, lutam pelo estabelecimento das prédicas assurbanipalescas, amam os segredos, o senso anticonciliatório, correm da cruz com sentimento gregário.
O que eles pensam? Entre o cristianismo e a ciência há uma intervenção cirúrgica anticristã que tem a finalidade de esvurmar o mecanismo e o contraditório – antítese? – sempre com a intenção de dissipar o uno e o indivisível, da qual faz parte a tradição brasileira. Esse abstencionismo, longe da brasilidade, foge ao nosso alcance e só causa dissemelhanças.
Precisamos tomar conhecimento urgente desses projetos de risco que são ocultados sob o manto da descrição. O que não se admite ainda é deixar que sejamos taxados de ignorantes. Isso é abuso, é desrespeito, é uma destruição, aniquilação da mente humana. É uma espécie de morte. E como diria o General Castello Branco: só uma criança é que não tem medo da morte.

PSICOLOGIA E GOVERNO


As ruas estão repletas de pessoas problemáticas com sinais de doença psicológica de todas as espécies. São inúmeras as situações e se diz que é o transtorno comportamental (experiência dos últimos tempos), ocasionando pelos mecanismos sócio-políticos (destruidores que são), do modelo de todas as categorias profissionais. A situação é comum e pertence às diversas classes. O cotidiano da vida, juntamente com o turbilhão de informações e notícias do dia-a-dia, e contraditório, muitas vezes sem corresponder, ou, correspondendo a realidade, trazem o conflito, o autocontraste, o desespero, o caos. Passa por isto mesmo a pertencer às pessoas todo o glossário de psicopatologias.
Sem que ninguém perceba, a indisposição é estabelecida em todos os lugares. Nas repartições, nas ruas, em todos os recantos há um sem número de pessoas desestruturadas desempenhando aquilo que lhes coube fazer ou que melhor convinha fazer para alguém. Sem habilitação ou com instrumentos técnicos, conhecimento, esperança, ou sem ninguém para se contrapor, nasce o insucesso, a falta de compensação, o prejuízo, o nada, o desespero e o início de uma série de perturbações mentais, a começar pelo transtorno obsessivo compulsivo; a desorganização apática; a hipobulia, a agripinia; a egomania; a tangencialidade; a tricotilomania; o pânico; o estupor; a apofonia que significa a forte sensação de estar fora de si; os tiques que são os movimentos involuntários; o parapragmatismo quando se diz frases incompreensivas e, dezenas de outras doenças que fazem parte do cotidiano brasileiro, causando por isso mesmo o próprio desastre econômico e moral da pessoa com perdas irreparáveis.
É obrigação do governo criar centros de orientação dessa natureza, para todos os tipos de situações com a devida indicação psicológica inicial às pessoas a evitar o descompasso na vida, o fracasso e, por fim, a desorientação mental e a marginalização. E o que fazer com esse contingente existente? O brasileiro está doente física e psicologicamente, também, pela incapacidade do próprio governo em permitir esse estado de anormalidade. De que nos servimos, atualmente? Do salve-se quem puder; deixai correr, deixai passar, que tudo se resolve por si só. Seria mais lógico compreender a política pelo gregarismo – força titânica a vencer outros países pela capacidade do associativismo. Estamos precisando de “luzes” verdadeiras, longe dessa carroça democrática e desse regime de semi-servidão. É chegada a hora do governo investir no equilíbrio das pessoas, na inteligência e na sintonia de decisões; em segurança, em discernimento. Assim não serão permitidas tantas aventuras traumáticas no perigoso contrafluxo da vida.
São os poderes da mente humana, o grande alvo nas empresas estrangeiras onde investem milhões; certamente, com a intenção não de manipular ou controlar, mas sugestionar o indivíduo para lhe dar a perfeita sensação de que o seu trabalho parece ter quase o mesmo valor do prolongamento do seu próprio bem estar. Não sou especialista no caso, nem tampouco defendo tese, mas, vê-se novas estruturas no panorama mundial e a inserção da mídia governamental para o povão; algo que o ajuste às transformações à coisa já existente e na correta direção.
O povo precisa de meios mecanismos para compreender as novas estruturas. Não é justo que muitos se sintam atônitos ou loucos sem querer, por não saberem mais o rumo que tomar. Não há quem queira assumir esse caminho ou resgatar a unidade e os direitos do ser humano? Há, com certeza, e esses profissionais estão bem próximos de todos nós. É preciso que se deixe de lado a compreensão de metas e se encare os mais frágeis. Todos nós estamos precisando de um regenerador, quem sabe, muito mais que isso dentro de um conceito científico de psicologia. Assim, constituiríamos mais cedo, quem sabe, o amálgama desejado, mesmo sabendo que o pior ainda está para chegar, mau grado das lendas.

NÃO É SEGREDO


Somos embargados da fúria salomônica. É invisível, ou inadmissível para quem ama, ver Deus e sua família sendo carregado dessa forma. Está claro para todos a curva descendente do modus‑vivendi do brasileiro pelo descompromisso, dissociação e desagregação dos principais dirigentes da nação. Querem a permanência contínua dessa mapiação – fútil disse‑me-disse – dos noticiários da Capital Federal. O que acontece ali está longe de se chamar pelo menos de tentativa de conserto do regime em que vivemos. Eles não são loucos de tentar alguma coisa acertada, mesmo sabendo que a vida é feita mais de tentativas do que de realizações. Senão acaba‑se tudo de uma só vez. Podiam ser mais amenos, pelo menos. Dizem o contrário com falas imponentes e posturas espetaculares, mas prevalece a soberba das obras e só aspiram grandezas no estilo das grandezas, sempre com objetos pontudos dimensionados, como as obras faraônicas. É estranho... Que desorientação consigo mesmo! Nos enganam, nos enganaram e continuam exigindo de todos nós o último esforço, até que fiquemos perdidos completamente, ou desnorteados como falam os “especialistas”, já que nos encontramos em estágio de estupefatez. Não desejam o compromisso com o social, a união com humildade, o saber com serenidade e a certeza com segurança. Pelo contrário, daqui em diante tudo poderá ficar sem solução ou possibilidades de ajustes se não souberem organizar. Daqui pra frente o que foi tecido estará desarrumado.
Nos tratam como ingênuos, nos dão às costas, mas dizem que estão do nosso lado, cuidam de nossos interesses, protegem nossas vidas, trabalham pelo País, e em “segredo” tramam a farsa do dia‑a-dia sem nenhuma base de sustentabilidade. Nos prendem numa redoma e ficam do outro lado a rir e chorar adivinhando o que pode ser bom ou ruim. Taí a destruição de milhares de lares e famílias que em pânico não têm mais referencial político, econômico e moral, únicas bases seguras de qualquer instituição. Eles sabem que há esperança, necessita‑se de consciência e honestidade comprovadamente. Estamos em estado de letargia ou posição catatônica, ou seríamos vítimas por extensão dos abutres malditos que preferem a guerra e, de espada na mão querem sujá‑la de qualquer maneira, nem que seja como seu próprio sangue disposto a perder a própria alma? O que é isso minha gente! Chega de demônios ferozes que “entram no juízo do povo” e deixam‑nos “de mente parada”. É mesmo esperar de Deus a sua vontade.

O REI A VELOCÍPEDE


Ele parece um ex‑Xá, ou o próprio Ide Amim Feheca. Assim o imaginamos a partir de agora, rei talvez da pantomima, com esse objetivismo extremado e suas frases louvaminheiras (com paciência e ataque frontal, desfere no inimigo golpes mortais). Esse rei às vezes incorpora uma criança sem prevenções ou cuidados antecedentes. Tem memória, mas não possui autonomia. Impressiona pelas vaidades, muda sempre de idéia e conserva o seu estilo. Afinal está na idade de deixar parecer-se complacente e moderado. Às vezes parece um velho rei. Nem velho nem novo. Nem tão novo que não possa dar um pulinho de dois metros a saltar do barco, e nem tão velho que deva dar pulos de cinco metros de altura para encostar sua cabeça no teto do planalto. É o incorrigível da pós-­modernidade, mas cordato; sabe tratar coisas leves com a maior gravidade, e as coisas graves com a maior leveza...
Rah! Reca! Viva o supimba Amim Feheca, por que não gritam para Fernando Cardoso, o presidente da fama? Não, não há mais tempo de pensar nisso! O importante agora é aliar-se com as frentes gigantescas como muitos políticos estão querendo aí; para impedir o pisoteamento sem controle do chorume humano. Pelas suas frases com ressonâncias antropo­fágicas apavorantes, quase nada mais temos daquele Brasil, daquela gente, senão as velhas torres de marfim. É se cuidar, minha gente! Falsificador de sensações, parece que acaba de embarcar num vôo charter para o local onde vamos ver breve o arreben­tão do badernaço, ali nas fornalhas do Palácio da Alvoroçada. Até isso é lento, mas é bom prepararem os baldes, tocar as trombetas e deixar os caminhões de tomates passar, por que tudo indica que vai começar a correr pelo asfalto já aquele grosso líquido vermelho. Não será sangue, mas causará a impressão. Será como um filme “sem vergonhas” com des­dobramentos minuto a minuto, e, gritando dirão viva os cabeças de tomate.
Tome o seu punch junto a todos os canais de televisão do dia‑a‑dia e veja a violência inoportuna sem os caprichos da imaginação. Viva a Big Apple! Mas estamos no Brasil das luzes, do dinheiro e cassinos, dos campeonatos e imediatismos, muita transação ilícita de bancos e soerguimentos mil, das rajadas de metralhadoras, dos assassinatos, seqüestros, pressões. Que modernidade... lendária modernidade pré-­paradigmática de sócios.
Vejamos as vozes e vídeos sem‑gracice que mandam para o ar: F.M.I. exige mais esforço de quem trabalha dez horas por dia. Seu salário será acrescido de novidades. Não tem nada, só ficção. O vale transporte dos paupérrimos virá no próximo mês uma tonelada a mais. Nunca mais. Seu contra‑cheque trará escrito: Promovido. Seu salário será o equivalente ao da classe. É apenas para fazer você de besta, aguarde... dia trinta vem aí com os novos aumentos. Você que não tem diploma de burro, sabe que é uma tremenda defibrilação. É provável brevemente ver o seu contra‑cheque ser reduzido pela metade. Afinal, estão programando para você, só receber cinqüenta por cento do seu salário. Desbussolado o nosso rei chega a ser um dois‑em‑um, mas quase não tem a oferecer, pois quase tudo se foi. Os frutos amadureceram demais e não há o que oferecer para os súditos. Até mesmo a linguagem abacadabrante e os ensaios mágicos estão findando. O povo capiongo já sabe que a confiança e voto foram parar dentro da estufa do artificialismo. Afinal, os projetos do rei só tiveram arquitetura. Formaram imensas teias de aranha, isto é, testemunham muita arte mas para quase nada serve.

DIALÉTICA À BRASILEIRA


No Direito Romano, exacerbar era o natural no espectro dos acontecimentos jurídicos. Mas o cerceamento da liberdade era visível. Valia o direito de ir-e-vir, mas a vigilância tinha suas regras. Hoje é igual. O Estado domina, mata e esfola. Fica o dito pelo não dito e a exploração do ser humano continua a prevalecer como numa competição de campeonato; muitos apostam a ver o fiasco das investidas dos mais fracos. É a exploração do ser humano que prevalece. Não basta ser cobaia para eles, os mandatários e corifeus, embevecidos e indolentes não só utilizam o olfato para perceberem o pesado clima que está em sua própria volta. Muda-se os fatos da noite para o dia, cuida-se primeiro de causas próprias e mais, trabalham para cobrir o Sol com peneira. Esquecem de exercitar o próprio direito a marcas e projetos interessantes.
Sabe-se que é impraticável a contemporização, pelo ligeirismo com que se fabricam as decisões nacionais; é mentira, diz um ministro, dane-se, afirma um presidente. Esse imediatismo é próprio de quem não quer largar o osso e não passa de uma fábrica de conselhos mal-articulados, esguichando sobre todos nós longínquas e fatídicas esperanças no dia-a-dia.
Estamos próximo do ridículo e ainda estão sugam de todos nós os suportes já estabelecidos; os direitos constitucionais. Esses conselheiros de retaguarda não fazem encenação, são desonestos juramentados. Há que se estabelecer parâmetros aceitáveis; pelo menos antes que se instale o irascível, o cabisbaixo.
Longe estamos da nova transição democrática e, até o momento os rocambolescos congressistas preferem a cartilha ilusionista que dita o fechamento de todas as passagens comuns, provocando desorganização social e desestruturação familiar; únicas bases sólidas para a própria política sócio-econômica do País.
Vende-se a palavra, troca-se os assuntos das reuniões, encaminha-se o que não foi resolvido, despacha-se o que não é autorizado, inverte-se o dizer do que está certo e também do que é inacabado; anuncia-se o que não é verdade, e, não se tem mãos limpas. Segue o vírus; lá está ele nos corredores dos Palácios, Senado e Câmara, como uma espécie de chiste especulativo, ou mesmo, explicativo para tantos desencontros de decisões.
Assim é traduzido o badernaço camuflado que prejudica a todos e caminha sempre do mesmo jeito com cara e roupagem de Primeiro Mundo, a troco de consertos, ajustes e acertos nacionais. O gregarismo de consertos, ajustes e acertos nacionais. O gregarismo sólido, o pacto e a dignidade ficam para depois.
E continuamos sem eqüidade, sem salários e sem poder vir a tona respirar, andando no corretor polonês das universidades. Não basta subjugar os jornalistas, médicos, advogados, agrônomos e tantas outras profissões de valor pétreo para o País, que cuidam do escudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas, e que visam a determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo delas; teoria e ciência.
Essa, a indolência política, a intolerância, a indecisão, a desonra parlamentar.

BIBLIOTECÁRIO: FONTE CIENTÍFICA DA INDÚSTRIA


O ser associativo é aquele capaz de assimilar todas as determinantes da intercomunicação. Quem se propuser a viver longe dessa regra, em pouco tempo poderá assistir as suas concepções dentro de um contexto infundado, ou, no mínimo, distorcido. No âmbito das empresas modernas do mundo empresarial, há alguns anos, nascia a descoberta da produção múltipla, em que o trabalhador ficava condicionado a produzir em série – concepções de Ford e Fayol – veio até os nossos dias o Homo Loquens. Ao exercitar‑se, a si e aos seus descendentes, nas técnicas que aprendera, aperfeiçoando‑as, transforma‑se ele no Homo-Ludens, de que nos fala Huizinga.
Dentro deste argumento, as indústrias são as primeiras a reconhecerem a permanente vigilância daquilo que produzem, associando o seu conhecimento à dinâmica do saber científico das diferentes fontes, à flexibilidade da necessidade de fazer consultas aos variados tipos de fontes. Esse jogo requer a necessária e permanente aproximação de profissionais especializados, certamente os bibliotecários, que, com a sua riqueza de métodos de investigação literária e científica, alcançam, com facilidade os mais diferentes campos de referenciação registrada de qualquer assunto. As indústrias trabalham just in time e necessitam constantemente, no próprio momento do desdobramento de seus projetos, da justificação de detalhes pela literatura com o assessoramento de profissionais especializados na referenciação das fontes variadas em seus apanhados de documentos diversos para, em conformidade com as próprias necessidades, poder comparar e associar à concretude de uma produção. Nada mais sensato que a garantia do nível de produção pelo assessoramento da pesquisa de um bibliotecário dentro da empresa, associando e comparando todas as referências possíveis daquilo que está sendo pesquisado para ser levado ao mercado. A nova informação favorece a troca de idéias e a conjugação para próximos e futuros assentamentos. Assim, poderemos elevar a comunicabilidade, a boa administração, e dizer, por sua vez, que este aceno é a garantia do sucesso de qualquer produção de uma empresa ou indústria.
O alvo maior de todas as organizações bem constituídas é atingir ganhos significativos de qualidade e de produtividade, a fim de não serem suplantadas por seus concorrentes. Não é diferente com a indústria. Cabe a quem empreende e sabe adequar e implementar o que se chama de qualidade total, através da comunicação da informação descentralizada, regida e baseada no conjunto de fatores disciplinadores, como por exemplo as normas da ISO (International Organization for Standardization), a mais conhecida organização de padronização do mundo. O seu objetivo é fazer com que as empresas adotem as suas normas como modelo de seus sistemas, pois essa organização tem publicado mais de 10 mil normas e é constituída por representantes de mais de 100 países, inclusive o Brasil, aqui resguardada com vigor pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ‑ ABNT.
É através da permanente busca e aperfeiçoamento das consultas e técnicas de pesquisas dentro da empresa e a intercomunicação entre os usuários de uma biblioteca, tendo em vista a busca de qualidade e modernização dentro da indústria, que ela, a própria empresa, se comprometerá verdadeiramente com todos os seus próprios requisitos e o seu sistema de produção. Os empreendimentos que se conscientizarem e se concentrarem no “investir” de seus potenciais, terão de se adequar, possivelmente, ao novo modelo, uma vez que o controle de seus sistemas de produção e qualidade de seus produtos, só deverão trabalhar com custos menores, controle de gestão, maior aproveitamento de recursos, qualificação de matérias‑primas, aperfeiçoamento de mão‑de‑obra etc., certamente a garantia de mais empenho, maior produção e larga competitividade no mercado.


























































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